segunda-feira, 29 de maio de 2017

Recado a Isabel Trigo de MIra


Tirando o contacto para o livro «Vítor Damas - a baliza de prata» (Editora Gato do Bosque) a última vez que estive perto de si foi no Instituto Português de Oncologia onde registei a entrega de material desportivo da IPSS «Leões de Portugal» aos meninos da Pediatria. Ver crianças tão pequenas a sofrer foi comovente e ainda mais quando um dos meninos se identificou como benfiquista mas aceitando com simpatia a oferta de camisolas, bonés e calções com as cores do Sporting Clube de Portugal. A ideia do desportivismo pode ser confirmada no livro referido pelas participações de Toni, Shéu e Humberto Coelho. Hoje quero dar um pequeno testemunho sobre o nosso sistema cultural. Estou quase a fazer 40 anos de jornalismo que iniciei no «Diário Popular» em 1978. No tempo de Cesário Verde o grande poeta era o Cláudio Nunes mas hoje ninguém sabe quem é. No tempo de Camilo Pessanha o famoso era o Augusto Gil. Dos livros do Círculo de Leitores sobre os Reis de Portugal só os homens apresentam data de nascimento. As 17 autoras só registam licenciaturas, mestrados e doutoramentos. Há uma escritora que enganou toda a gente sobre a sua idade: nasceu em 1922 ma os dicionários referem o ano de 1932. O que se passou com os cachecóis do SLB com o «36» em vez de «33» é que se indicassem «33» já ninguém os comprava. Na verdade as Liga não são Campeonatos porque foram torneios experimentais, privados e particulares. Realizaram-se nos domingos deixados livres pelo Campeonato de Portugal entre 1934 e 1938 mas como o SLB ganhou 3 tentam (Ricardo Ornelas foi o pioneiro) fazer passar a ideia de que nessas épocas desportivas não existiu o Campeonato de Portugal. Num certo sentido é como insistir na data de 1904 quando o SLB foi fundado em 1908. Basta ver o emblema com a bola e a roda da bicicleta. A coisa é tão repugnante que no livro «Repórteres e Reportagens de Primeira Página» de António Valdemar e Jacinto Baptista alteram as fontes («O Século» e o «Diário de Notícias») do dia 2-12-1907 acrescentando «e Benfica» que não está nas notícias citadas. O sistema cultural é tão egoísta, duro e egocêntrico que Vítor e Homero Serpa em 2004 num livro dos CTT sobre o Futebol em Portugal até escrevem que o vencedor do Campeonato de 1957/58 foi o SLB quando de facto foi o SCP. Portugal é um país de analfabetos e não há nada a fazer a não ser olhar com serenidade para este e outros desastres. 

(Fotografia de autor desconhecido - Vinte Linhas 1688)

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