Quase
a chegar ao número cem das crónicas no «Correio do Ribatejo», já era tempo de
uma destas crónicas se referir a Alexandre ´O Neill, (1924-1986), poeta maior e
mestre da crónica. Descobri há dias o livro «Passo tudo pela refinadora» de Laurinda
Bom (Editorial Notícias) na Livraria Sá da Costa e dei logo com uma aproximação
do grande mestre às crónicas e ao seu mundo. Vejamos o que delas diz o Poeta
Alexandre O’ Neill: «A crónica é, efectivamente, uma coisa efémera. Vai pedir
alguma coisa de empréstimo à poesia e alguma coisa ao conto e não tem completa
eficácia. Nem a construção de uma nem de outro. Sobre o que escrevo, creio que
há algumas que podem perdurar algum tempo na memória das pessoas, mas lembro
que hoje se lêem grandes cronistas brasileiros de outros tempos e se vê que
perderam a força. O que acontece é que eu não sou, a bem dizer, um cronista.
Escrevo (ou escrevia, melhor) textos para jornais que, depois reconheço, muito
naturalmente, como textos poéticos. Então incluo-os nos livros. Nem todos,
claro. Há uns que ultrapassam o efémero da crónica. Outros, que podem parecer
prosaicos, são (ou melhor, serão) poemas em prosa, digamos, o que é muito
diferente da prosa-prosa. E também me posso enganar e apressar, e tomar por
poema o que não é…» Nota final –
Alexandre O’ Neill foi grande amigo de Jacinto Baptista e muitas vezes
conversei com o Poeta na Rua da Rosa onde existiu o Jornal «O Ponto» de boa
memória. De boa memória também é o conselho do Poeta para que eu estivesse
sempre rodeado de bons dicionários. Tenho feito os possíveis e os impossíveis
por não esquecer essa recomendação…
(Crónicas
do Tejo 95)