domingo, 21 de janeiro de 2024

«Poemas da mulher e do náufrago» de Jaime Rocha


Jaime Rocha (n.1949) cujo nome civil é Rui Ferreira de Sousa, estreou-se na ficção com «Tonho e as almas» de 1984. Este livro de 58 páginas junta dois títulos: «Mulher inclinada com cântaro» (2012) e «Mulher e um cão que dança» (2019). A sequência poética pode ser lida como uma «peça de teatro»: há um palco (a praia), há uma mulher (com um cântaro), há um cão (que remexe na areia) , há um homem que se aproxima e faz perguntas, há um grupo de bêbados, há um náufrago.

A mulher espera e está sentada na areia («É um choro irregular que se ouve/encostado ao corpo do homem»). O cão também «Porque ambos sabem que/um náufrago vive no coração do mar/à espera que as correntes e as rochas/o devolvam à terra». Na página 20 a mulher adverte: «Se houvesse aqui monumentos antigos/junto ao mar, ruínas, arcos, cemitérios, /mas não, não existe nada». Mas o que existe é o luto, um espaço sentimental onde se cruzam morte e vida, dor e beleza. O poema da página 56 prenuncia um mundo novo: «Foi nesse momento de fim de tarde/que as pessoas invadiram a areia/ e se puseram em torno da fogueira,/ numa espera silenciosa,/ anunciando uma outra forma de / comemorarem um festim, um mundo /novo, já sem náufragos, sem gritos,/ sem demência»

São dois poemas longos e não de livros de poesia no sentido tradicional. Textos críticos de Manuel de Freitas, João Barrento, João Paulo Sousa, José Mário Silva e Henrique Manuel Bento Fialho completam o volume.

(Edição: Volta d´Mar, Apresentação: Biblioteca da Nazaré, Capa: Marta Nunes)

 [Livros e Autores 18]