Uma crónica é um contrato entre o jornalista, o director do
Jornal e os leitores. Os termos podem não ser reduzidos a escrito mas, como nos
velhos tempos, vale sempre o aperto de mão e a palavra de honra. O jornalista
dá o seu melhor, o director do Jornal concede-lhe um espaço que vale ouro e os
leitores dão ao texto a melhor atenção possível. Ao chegar à crónica nº 200 dei
por mim a reler algumas delas - desde logo porque queria fazer uma escolha para
a edição de um futuro livro no qual se reúnem cinquenta. Na crónica nº 165
publicada em 10 de Maio de 2019 gostaria de ter acrescentado «A tua voz tem o
registo da mais alta Poesia, instável mas feliz ponto de encontro entre a
saudade e o sonho, entre o passado e o futuro, entre a sombra e a luz. Porque,
tal como numa liturgia urbana, há no ouro das alfaias da tua voz um tempo de
celebrar, de convocar, juntar e harmonizar de novo tudo aquilo que, no nosso
coração, a morte acabou por separar.»Continuo a pensar que o Jornalismo é uma
disciplina da Literatura porque o Jornalista é o Historiador de todos os dias.
Agora no momento em que escrevo faltam poucos dias para que Cristiano Ronaldo
celebre 35 anos mas tudo teria sido diferente se no dia 24 de Outubro de 1999
um grupo de Homens (árbitro, enfermeiro, delegado) não tivesse dado o melhor de
si para o salvar de uma taquicardia grave no decurso de um jogo de Iniciados
Casa Pia-Sporting. E o jornalista que relatou com fidelidade e pormenor a
situação fui eu porque eu estava lá nessa manhã de Domingo. O Jornal «Sporting»
foi o único que referiu o problema mas compreende-se: o jogador ainda não era
famoso nem em Portugal nem na Europa nem no Mundo. E porque há sempre coisas
que ficam por dizer é que desde 1978 ainda não parei de escrever nos jornais. E
espero continuar.
[Crónicas do Tejo 225]
(Fotografia de Vinicius Carriço)