A base dos contos (149
páginas) de Álamo Oliveira (n.1945) é, como se lê em «O aprendiz de feiticeiro»
de Carlos de Oliveira «a realidade que nos cerca». Essa realidade está nos
títulos: «Segredos com gelatina», «Lar doce lar», «A maldição de não ver uma
garça mergulhar no mar», «A última pega», «Beijinhos!», «Conto da avó Genuína»,
«A casa do lago», «Tudo por causa da Marta», «João, John, Juan», «Eu e as
vacas» e «A minha amiga Estela». De acordo com a citação inicial «Todos os
contos passam pela América.» O primeiro refere a situação de pobreza: «Nas
ilhas não havia trabalho que fosse remunerado com justiça. Faltavam géneros de
primeira necessidade. Os recém-nascidos morriam no seu primeiro Verão de vida
diluídos em diarreia. Os mais velhos morriam antes do tempo.» A emigração pode
ser uma resposta mas sem final feliz: «Teve sempre medo de encontrar alguém que
lhe desse notícias de lá. Nunca foi a festas do Espírito Santo.» Um neto do
protagonista faz uma viagem ao passado: «Antes de chegar, quis documentar-me
sobre estas terras prometidas mas não atingi aquelas onde, dizem, corre leite e
mel. Havia índios por aqui e já não há.» Na página 23 surge uma definição de
conto: «Contar um conto era o mesmo que puxar pelo passado e, com ele, remendar
o futuro». Na página 25 pode ler-se «Na América, um pecado mortal é como um
ferro num toiro do José Albino» para melhor perceber o outro lado: «adorei este
gajos pela democracia, pela liberdade que diziam defender. Como é que foi
possível não me aperceber do seu racismo, do seu xenofobismo, da sua nunca
extinta vocação para escravizar os outros?» De um lado o vulcão («Teve fases de
lava, de pedra, de gases, de cinzas») do outro a Base das Lajes e «o preço
militar da pobreza insular». Um livro a não perder.
(Editora: Companhia das lhas, Direcção: Carlos Alberto Machado,
Assistência editorial: Sara Santos, Capa e Foto do Autor: Rui Melo, Coordenação
Gráfica: Rui Belo)
[Livros e Autores 21]