José
Correia Tavares (1938-2018) estreou-se nos anos sessenta do século XX com
«Dádiva» (1961) e «A flor e o muro» (1962) e este recente «Florir na Charneca»
é o seu segundo livro póstumo, tendo sido escrito na Charneca de Caparica numas
férias de Verão. Conta com 90 páginas e divide-se em quatro sequências:
«Balanço provisório»,«Fio de prumo»,«Com peso e medida» e «Tudo em aberto».
No
prefácio José Manuel Mendes situa a obra de José Correia Tavares como
exprimindo «uma tensão criativa entre as tradições fono-rítmicas, sentenciosas
efabulatórias com origem popular, que renovou nos temas e formas, sobretudo ao
eleger a quadra modo dilecto de respiração em verso, e a poética contemporânea,
investida no trabalho da linguagem, numa busca das novas possibilidades do
realismo, na abertura a instâncias sem fronteiras – da matriz lírica a um
pendor sócio-interventivo com lugar para o humor e para a sátira.»
Dois
exemplos dos poemas pessoais, digamos do lado do «eu»: «Já não tenho a energia
/ De quando era adolescente / Mas, no amor, na poesia, / Basta querer, vou à
frente.» ou então «Sereias ias buscar /Uma ou duas sempre tinhas, /Velho,
agora, frente ao mar /Riem de ti as sardinhas.»
E
dois poemas desta vez do lado colectivo, o do «nós»: «Qualquer coisa como isso
/Nada mais se pretendia/ Mas, daqui levou sumiço/ O que foi democracia» ou
então «No país sem berbicacho, /Diria, de norte a sul, /Bem raro será o tacho
/Que não tenha saco azul.»
(Editora:
Húmus, Foto e apresentação: Natércia Tavares, Prefácio José Manuel Mendes,
Apoio. Câmara Municipal de Almada)
[Um livro por semana 666]