sábado, 23 de dezembro de 2023

«Aqui a caminho» de Manuel Barata

 


Neste seu décimo livro, Manuel Barata (n.1952) começa por uma advertência («Nunca cedas à vaidade»), continua com uma reflexão («É o tempo /o inexorável tempo/ que atenua a mágoa/e mostra/quão profundas/eram as raízes») sobre a Vida e também sobre a Dor: «O tempo somente mitiga a dor/(À ausência chamamos saudade)/mas as cicatrizes ficam e moem./É certo que não matam; todavia,/ roubam o colorido às nossas vidas.» 

O percurso deste livro tem origem na Mata («A minha aldeia será sempre a minha aldeia/ e nenhuma outra a poderá substituir»), passa por Nambuangongo, Cabo Verde, Lisboa, Castelo Branco (e outros lugares) e termina em Santa Iria da Azóia: «Tudo gastámos, amada,/tão perdulariamente!/ e só temos p´ra nos dar/este silêncio gélido.» A geografia do volume tem duas referências; a mãe do poeta (Maria Cesaltina) e a esposa (Zélia) mas não se esgota no território dos afectos. Antes se prolonga por um espaço («Eram os livros») cuja origem está em Gutenberg: «Homem/de imaginação/sonhou /a tipografia/e ousou/um novo milagre/da multiplicação./ Outro peixe/outro pão!»

Fernão Lopes, Gil Vicente e Luís de Camões são os primeiros três escritores que «fogem das leis da morte» e fazem companhia ao autor na sua biblioteca. Deste século, entre outros, António Salvado, Luís Miguel Nava e Isabel Mendes Ferreira: «Todas as misérias do mundo lhe doem/e delas fala e escreve com amável sabedoria./Caminhar na vertical tem um preço/e de olhos abertos um preço ainda maior.»

Edição: Câmara Municipal de Castelo Branco, Design; Paulo Veiga, Colecção: Alvores)

[Livros e Autores 17]