O arco temporal desta biografia de Chet
Baker (1929-1988) decorre entre 1946 (Washington) e 1963 (Barcelona) o mesmo é
dizer entre a recruta no Exército americano e mais uma recaída - «tudo recomeçou uma vez mais». Na
introdução deste livro Carol Baker em 1997 afirma: «Chet Baker não pode ser
descrito apenas como músico, toxicodependente, marido ou lenda» pois a sua vida
aqui contada em 112 páginas foi «um irremediável caos impregnado de puro
génio». No resumo possível deste livro podemos realçar os encontros com as
mulheres na vida do músico: Cisella, Sherry, Charlaine, Liliane, Halema e
Carol.
Com treze anos Chet passa do trombone para
a trompete «porque não conseguia chegar bem às posições mais em baixo» o que
prova que o acaso tem muita força. Terá sido por acaso que descobriu a droga:
«O Andy foi também a primeira pessoa que me fez descobrir a erva, abençoado
seja.» Em 1946 entra com 16 anos para o Exército americano, torna-se amigo de
um companheiro de instrução e sente a sorte do seu lado: «Eu e o Dick fomos os
únicos destacados para a Europa no nosso regimento; todos os outros foram
enviados para o Japão e para a Coreia.» Na sua viagem para Bremerhaven descobre
a loucura: «Como não havia álcool para beber, alguns tipos misturavam Aqua
Velva e sumo de frutas. De tanto engolirem aquele cocktail tóxico à base de aftershave
alguns ficaram cegos.» Na Alemanha tudo era possível: «Qualquer soldado podia
mandar para um Volkswagen conduzido por um alemão (desde que o motorista
estivesse sozinho) e este levá-lo aonde quer que fosse por cinco ou seis cigarros.»
É em Berlim que descobre Cisella: «Ela e a irmã tinham sido enviadas para lá
pelos pais na esperança de que viessem a conhecer um soldado – de preferência
um oficial. O plano era casarem ou, no mínimo, receberem comida, roupa e
dinheiro desse militar.» Forte o encontro com Charlie Parker no Tiffany Club :
«Senti-me pouco à vontade e muito nervoso quando ele perguntou à assistência se
eu estava lá e se podia subir e tocar alguma coisa com ele.»
Fica apenas uma ideia deste magnífico
livro de memórias que não se pode perder.
(Editora: VS Vasco Santos, Design: João
Bicker, Revisão: Carina Correia, Tradução: Sofia Castro Henriques)
[Um livro por semana 671]