António Coelho Lousada
(1828-1859) não foi «um jornalista de banca» nas colaborou em diversos jornais
e revistas do Porto como A Lira da Mocidade, A Grinalda, Miscelânea Poética, O
Bardo, Braz Tisana, Clamor Público, A Esmeralda, O Nacional, O Comércio do
Porto ou A Península. A sua vida foi marcada pela paixão por Maria Emília
Braga, irmã dos escritores Alexandre e Guilherme Braga, falecida em 1850.
Arnaldo Gama considerou-o «Um homem de talento», Pedro da Silveira lembra-o
como «Um moço triste, preso à lembrança de noiva» e Camilo Castelo Branco viu
nele «uma inteligência que será aqui a primeira.» A narrativa arranca no ano de
1384 quando, perante o cerco castelhano a Lisboa, o Mestre de Avis envia Rui
Pereira (tio do Condestável) ao Porto a pedir auxílio aos burgueses da cidade.
Não é fácil tal tarefa pois vozes se levantam contra («Se os de Lisboa carecem
de nós, nós não carecemos deles») até
que um discurso serena os ânimos: «Meteram-vos na cabeça que vos queriam matar
à fome porque se embarca a carne na esquadra mas não se lembrou ninguém que
todos os miúdos cá ficam!» Segundo Camilo Castelo Branco em Os Tripeiros
«sublimemente se explica o epíteto que alguns palermas cuidam soar
indecorosamente para os netos da valente raça de portuenses».
Tal como refere o título do
sexto capítulo este «romace-crónica» cruza no seu articulado «causa pública e
coisas particulares» em 165 páginas. De um lado o Porto: «O Porto tinha de
tudo: súbditos da coroa e súbditos da mitra e moradores que nem reconheciam uma
nem outra; havia cristãos, mouros e judeus. A aljama era a mais pobre; a esnoga
era a mais rica; a cruz era a mais forte.» No pano de fundo geral nascemos
conflitos particulares, os amores de Fernando/Irene ou João/Garifa e surge uma
reflexão sobre o Amor («As mulheres lucram menos com o que recebem do homem em
geral: não as compensamos.» ) ou dito de outra maneira («A pobre não sabia que
o amor não se traduz bem em palavras») ou ainda («maior feitiçaria que a do
amor não pode haver») e conclui, dirigindo-se aos leitores: «os que são
casados, o são por amor e os solteiros e as solteiras ainda não deram um
sorriso, um olhar a dote algum de boa soma, simplesmente pelo dote e nada
mais». Voltando ao lado social da narrativa, lê-se na página 126: «A poesia
nessa época era tida em grande conta e as atenções da assembleia voltaram-se
para o bardo.» E na 148 se lê: «as mouras por aqueles tempos roubavam às
cristãs bastantes corações, tanto de nobres como de peões, o que as obrigava a
crer em poderes ocultos para não se confessarem derrotadas nos encantos.»
(Editora: Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Prefácio, notas e revisão: José Viale
Moutinho, Foto: João Paulo Coutinho)
[Um livro por semana 670]