O mais recente livro de António Ferra (n.1947) parte do lamento do poeta (ele mesmo) «querem-me mais número de senha que gente» mas mesmo quando lhe dizem que «os poemas são inúteis» ele recomeça porque «um gajo tem de se preparar para a vida eterna».
O mal-estar do Mundo
surge reflectido pelo sujeito do poema: «Ao sábado não trabalho, levanto-me ao
meio dia, vale-me o café tardio ao lado dos filósofos de bairro de niilismo em
sacos de plástico.» Como solução há uma proposta: «O melhor é ouvir contar uma
história / como a daquele trovador de bairro ao terceiro copo / a falar da
trela da tia extensível / a passear o cão à noite / de vocabulário a condizer
com os sapatos.»
Entre o Amor e a Morte o poema adverte: «basta uma faúlha,
um
cigarro mal apagado, uma faísca de raiva logo ardem gritos abafados pelas
sílabas do fim»
(Impressão: Gráfica
99, Composição: Pedro Serpa, Desenho: do autor)
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