Fernando Venâncio (n.1944)
organiza este livro de 311 páginas em quatro partes: «Antes do Português»,
«Portugal constrói uma língua», «O Galego e o Português» e «Sós e
acompanhados». Sendo impossível resumir um livro desta dimensão em poucas
linhas faço nesta ficha um convite à sua leitura que nada pode substituir.
Trata-se de um livro sobre palavras e, tal como Ruy Belo escreveu em «País
Possível» de 1973, «Sempre entre mim e ao que chama coisas há-de haver
palavras». O ponto de partida é um texto da página 14: «As línguas são feitas
de palavras e a maioria delas acham-se recolhidas em dicionários. São factos,
esses, que nenhuma dúvida parecem admitir. Acontece que a palavra, a noção aqui
em causa, suscita vários problemas. E o primeiro deles é a sua própria
existência. As palavras existem? Existem, sim, mas é com uma existência
precária, artificial, baseada num exercício de abstracção. A larga maioria dos
habitantes do planeta teria dificuldade em responder à solicitação: «Diga uma
palavra». Com efeito, aquilo que produzimos, ao falarmos, não são palavras mas
cadeias de sons entendíveis por outrem. Cadeias que podem ser muito breves:
«Aí!» ou «Pára!» Daí uma descoroçoante mas muito prática definição de palavra:
«um conjunto de letras entre dois espaços em branco». Exacto: a palavra
pertence por natureza ao terreno da escrita e só nele tem verdadeiramente
sentido.»
Como não podia deixar de ser o
chamado «Acordo Ortográfico de 1990» aparece logo na ficha técnica e numa nota
na página 200: «não existem e nunca existirão, traduções luso-brasileiras, seja
de Proust, de Dan Brown ou de instruções de máquina de lavar. Em matéria de
tradução e de edição, o Brasil e Portugal têm cada um, a sua política e a sua
indústria , inteiramente independentes . O célebre Acordo Ortográfico de 1990
foi, no mundo real, um devaneio inútil e dispendioso.» Já num artigo no jornal
«Público» disponível na Internet Fernando Venâncio chamou ao «AO90» a fórmula
do desastre.
(Editora: Guerra e Paz,
Revisão: Ana de Castro Salgado, Capa e paginação: Ilídio J.B. Vasco, Mapas e
fotografia: Carlos Filipe Nogueira, Maria Alice Fernandes e Fernando Venâncio)
[Um livro por semana 652]