Graça Pires (n.1946) viu em
1988 a Associação Portuguesa de Escritores atribuir o Prémio Revelação da
Poesia ao seu livro «Poemas» depois editado em 1990. Neste seu recente livro de
54 páginas, Graça Pires usa como referência poética a vida da bailarina e
coreógrafa americana Isadora Duncan (1877-1927) cujo nome civil era Ângela.
Por um lado o poema afirma:
«Tive amigos, /eram actores, músicos, / bailarinos, boémios. /Escreviam o meu
nome/nos jornais e em cartazes.» Mas também pergunta: «Como contar aqui todos
os tropeços/todos os despojos, todas as solidões?» Surge uma memória
justificativa: «Sempre aceitei a fama como coisa vã. /As críticas a meu
respeito/ ora me divinizavam, ora me vexavam. /Recebi ovações, / fui vaiada.»
O livro tem um ponto de partida ( «Abro devagar a seda dos meus véus para/desvendar o mel e o sangue dos sentidos,/ que a vida e a morte consentiram.») e um ponto de chegada: «Os cavalos, gritando, /vieram no seu trote. /De meu brilho se tomaram. /Cavalgaram as ruínas do meu peito/e o meu silêncio sustiveram na garganta. /O coração, tão breve, / ficou suspenso por uma névoa/que, num instante, se dissipou. / Devagar bailando/Devagar morrendo.» A morte dos filhos lê-se na página 46 («Aquela manhã cinzenta foi tão cruel/que senti que morria também.») tal como o balanço está na 51: «Contra a corrente, eu sei, /remei sempre a minha vida/e na margem renegada me cobri/de desejos vadios e ideias interditos
(Editora: Labirinto, Prefácio:
Eugénia Vasques, Capa: Daniel Gonçalves, Foto: Maycon Marmo, Paginação: Maria
Toscano, Coordenação: Victor Oliveira Mateus, Teresa Macedo, Maria João
Cabrita)
[Livros e Autores 22]