Nuno
Ribeiro, autor de inúmeras edições e estudos sobre a obra de Fernando Pessoa
publicados na Europa, no Brasil e nos E.U.A. além de coordenador com Cláudia
Souza da «Coleção Pessoana» da Editora Apenas Livros, organiza este livro de 72
páginas que surge na sequência dos anteriores «Escritos sobre o Tédio», «Poemas
à Noite» e «Poemas ao Vinho», tem um objectivo («constituir-se como um
contributo para o estuda das relações entre a obra de Botto e de Pessoa») e
integra textos transcritos directamente do espólio de Fernando Pessoa que se
encontra na Biblioteca Nacional de Portugal.
O
ponto de partida é a reflexão de Eugénio de Andrade que define a poesia de
António Botto (1897-1959) deste modo: «Sortilégio rítmico, linearidade
discursiva, preferência pelas cadências da fala e pela frase directa roçando às
vezes pela vulgaridade, concisão próxima da melhor tradição popular,
sensibilidade atenta à realidade imediata, ausência de preocupações
metafísicas, gosto por um hedonismo esteticista e ainda alguma pobreza ao nível
do pensado e do sentido, tornaram esta poesia notada por espíritos exigentes e,
simultaneamente, acessível». É um facto que as elites portuguesas preferiram
Pascoaes, José Régio e Fernando Pessoa nos anos 20, 30 e 40 em detrimento de
António Botto, sendo ele o poeta mais falado. Jorge de Sena, por sua vez,
define esta poesia em quatro fases: primeiro juvenil com influência de Correia
de Oliveira, Augusto Gil e Lopes Vieira, depois simbolístico-esteticista, a
seguir pessoal e original e, por fim, decadência longa e triste.
Fernando
Pessoa (1888-1935) dá início ao estudo sobre António Botto com as seguintes
palavras: «António Botto é o único poeta português, dos que sabemos que
existem, a quem a designação de esteta se pode aplicar distintivamente, isto é,
como definição bastante, sem acréscimo nem restrição. É este o teorema; o fim
deste breve estudo é demonstrá-lo. Todo poeta, porque todo artista, é
forçosamente esteta, pois esteta significa, primariamente, cultor da beleza e
todo artista e portanto poeta é, pelo menos, cultor da beleza pela criação dela.
Há porém poetas e artistas que criam beleza por um movimento íntimo
espontâneo, em que a ideia de beleza não figura como elemento determinantes:
assim um Byron ou um Shelley olha menos à beleza possível do que cria ao
aliviar a alma do peso de uma emoção e a criação da beleza é mais parte do
alívio que preocupação directa. Outros há que, escravos embora da beleza são,
todavia, no mesmo tempo, súbditos de outras preocupações , como a religiosa em
Dante e Milton e a psicológica em Shakespeare.»
(Editora: Apenas Livros, Capa: Susana
Resende)
[Um livro por semana 617]