Faustino da Fonseca (1871-1918) deputado,
senador, jornalista e escritor foi maçon
desde 1895 na Loja Renascença de Lisboa. Foi deputado à Assembleia Constituinte
(1911) e eleito senador pelo Círculo Eleitoral de Angra do Heroísmo (1915). Dirigiu
o jornal A Vanguarda em 1895 e
colaborou nos periódicos Correio da
Manhã, O Século, O Mundo e A Luta .Foi
director da Biblioteca Nacional entre 1911 e 1918 e sócio da Academia das
Ciências de Lisboa. A sua prisão no Limoeiro entre 7 de Agosto e 6 de Novembro
de 1896 fiou a dever-se a uma crítica sua no jornal A Vanguarda sobre a falta de prestação de contas da Câmara
Municipal de Lisboa no que diz respeito à subscrição nacional motivada pelo
Ultimato Inglês.
Como o autor explica neste livro «exponho
o que é a cadeia, o que foi, o que deveria ser; colhi, compilei e publico dados
estatísticos inéditos; consagro algumas páginas aos acontecimentos que
determinaram a minha prisão.» Neste livro de 115 páginas o autor não se limita
a falar de si e do seu caso, antes junta elementos para uma memória do Limoeiro;
veja-se a página 62: «D. João VI embarcara para o Brasil em 1807, fugindo à
invasão de Junot, deixando Portugal como uma péla, sujeita ao jogo de franceses
e ingleses. Os cidadãos que lamentavam as desgraças nacionais, os patriotas que
pensavam na forma de melhorar a situação, foram perseguidos e presos. Muitos
entraram no Limoeiro e Gomes Freire, a mais brilhante figura do exército
português, foi encarcerado em S. Julião da Barra e ali sofreu um infame
suplício. Os infelizes lançados na cadeia, forma metidos no oratório e sofreram
os martírios morais infligidos por padres e frades fanáticos, vendidos em corpo
e alma à regência e aos ingleses. Desde o amanhecer do terrível dia, todos os
sinos da cidade dobravam a finados. Às duas horas da tarde, saiu do Limoeiro o
fúnebre préstito, formado pela misericórdia, confrarias, frades de várias
ordens, carrascos, juízes, aguazis e muita tropa. Os onze liberais, coronel Manuel
Monteiro de Carvalho, major José Francisco das Neves, alferes José Ribeiro
Pinto, ex-alferes António Cabral Furtado de Melo, sargento José Garcia de
Morais, José Campelo de Miranda, José Joaquim Pinto da Silva, capitães Manuel
Inácio de Figueiredo e Pedro Ricardo de Figueiró, Manuel de Jesus Monteiro e
Máximo Dias Roberto iam descalços, de alvas, mãos amarradas, crucifixo
pendurado ao peito e corda ao pescoço.»
(Ediora:
Fabula Urbis e Apenas Livros, Capa: João Pimentel)
[Um livro por semana 614]
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