Carlos
Nogueira adverte logo na página 7 deste livro de «Ensaios de literatura
portuguesa»: «Nem as palavras são suficientes para dizer o mundo nem nenhum
ensaio literário é capaz de falar satisfatoriamente sobre um poema, um romance,
um texto literário.» Num certo sentido esta situação (adversativa…) poderia
levar o autor deste texto em forma de notícia/resenha a concluir pela
impossibilidade de resumir um livro de 407 páginas em 25 linhas. Mas não.
Comecemos
pelo princípio. Afirma o autor o seguinte: «De que se trata neste volume é de
ler textos literários, de investigar a pluralidade dos seus códigos, a
multiplicidade e a infinitude dos seus significantes e das suas relações de
significado.»
Aqui
se estuda uma parte significativa da Poesia Portuguesa dos séculos XIX e XX:
Nicolau Tolentino, João Penha, Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Álvaro de Campos, Jorge
de Sena, Alexandre O´Neill ,Liberto Cruz, Manuel António Pina e Daniel Faria.
No que diz respeito à Ficção os ensaios dizem respeito a obras de Camilo
Castelo Branco, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, José Saramago, J. Rentes de
Carvalho, Afonso Cruz e Valter Hugo Mãe.
As
últimas doze linhas da Introdução do autor acabam por ser também uma reflexão
geral sobre o acto de escrever e são exemplares daquilo que este livro
proporciona ao leitor: «Escrevemos para preencher vazios, indecisões, medos,
desconhecimentos, para suprir o muito que nos falta. É na experiência dessa
falta que a palavra literária nasce, mas a nova palavra logo é perturbada pela
carência que a origina e, por isso, uma nova palavra ocupa o lugar da anterior Este
processo não tem fim, nem na literatura nem na crítica literária. Nem uma nem a
outra nos dão a plenitude que buscamos. Em vez disso, põem-nos perante os
motivos, os desejos, os sentidos e os mistérios da nossa vida individual e
social. Muitas das ausência que nos afectam mas também algumas das expressões
triunfantes do que eu entendo que é e deve ser o universo do humano,
encontra-se nos ensaios deste livro que é a utopia de um outro livro que eu não
soube escrever.» Fica o veemente convite à leitura: este é um livro a não
perder, sem dúvida. Quem o lê fica a ganhar sobre o que era antes.
(Editora: Edições Lusitânia, Capa:
Andreia Dias)
[Um
livro por semana 616]
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