Tirando
o contacto para o livro «Vítor Damas - a baliza de prata» (Editora Gato do
Bosque) a última vez que estive perto de si foi no Instituto Português de
Oncologia onde registei a entrega de material desportivo da IPSS «Leões de
Portugal» aos meninos da Pediatria. Ver crianças tão pequenas a sofrer foi
comovente e ainda mais quando um dos meninos se identificou como benfiquista
mas aceitando com simpatia a oferta de camisolas, bonés e calções com as cores
do Sporting Clube de Portugal. A ideia do desportivismo pode ser confirmada no
livro referido pelas participações de Toni, Shéu e Humberto Coelho. Hoje quero
dar um pequeno testemunho sobre o nosso sistema cultural. Estou quase a fazer
40 anos de jornalismo que iniciei no «Diário Popular» em 1978. No tempo de
Cesário Verde o grande poeta era o Cláudio Nunes mas hoje ninguém sabe quem é.
No tempo de Camilo Pessanha o famoso era o Augusto Gil. Dos livros do Círculo
de Leitores sobre os Reis de Portugal só os homens apresentam data de
nascimento. As 17 autoras só registam licenciaturas, mestrados e doutoramentos.
Há uma escritora que enganou toda a gente sobre a sua idade: nasceu em 1922 ma
os dicionários referem o ano de 1932. O que se passou com os cachecóis do SLB
com o «36» em vez de «33» é que se indicassem «33» já ninguém os comprava. Na
verdade as Liga não são Campeonatos porque foram torneios experimentais,
privados e particulares. Realizaram-se nos domingos deixados livres pelo
Campeonato de Portugal entre 1934 e 1938 mas como o SLB ganhou 3 tentam
(Ricardo Ornelas foi o pioneiro) fazer passar a ideia de que nessas épocas
desportivas não existiu o Campeonato de Portugal. Num certo sentido é como
insistir na data de 1904 quando o SLB foi fundado em 1908. Basta ver o emblema
com a bola e a roda da bicicleta. A coisa é tão repugnante que no livro
«Repórteres e Reportagens de Primeira Página» de António Valdemar e Jacinto
Baptista alteram as fontes («O Século» e o «Diário de Notícias») do dia
2-12-1907 acrescentando «e Benfica» que não está nas notícias citadas. O
sistema cultural é tão egoísta, duro e egocêntrico que Vítor e Homero Serpa em
2004 num livro dos CTT sobre o Futebol em Portugal até escrevem que o vencedor
do Campeonato de 1957/58 foi o SLB quando de facto foi o SCP. Portugal é um
país de analfabetos e não há nada a fazer a não ser olhar com serenidade para
este e outros desastres.
(Fotografia de autor desconhecido - Vinte Linhas 1688)