terça-feira, 2 de abril de 2019

«Três Meses no Limoeiro» de Faustino da Fonseca



Faustino da Fonseca (1871-1918) deputado, senador, jornalista e escritor foi maçon desde 1895 na Loja Renascença de Lisboa. Foi deputado à Assembleia Constituinte (1911) e eleito senador pelo Círculo Eleitoral de Angra do Heroísmo (1915). Dirigiu o jornal A Vanguarda em 1895 e colaborou nos periódicos Correio da Manhã, O Século, O Mundo e A Luta .Foi director da Biblioteca Nacional entre 1911 e 1918 e sócio da Academia das Ciências de Lisboa. A sua prisão no Limoeiro entre 7 de Agosto e 6 de Novembro de 1896 fiou a dever-se a uma crítica sua no jornal A Vanguarda sobre a falta de prestação de contas da Câmara Municipal de Lisboa no que diz respeito à subscrição nacional motivada pelo Ultimato Inglês.
Como o autor explica neste livro «exponho o que é a cadeia, o que foi, o que deveria ser; colhi, compilei e publico dados estatísticos inéditos; consagro algumas páginas aos acontecimentos que determinaram a minha prisão.» Neste livro de 115 páginas o autor não se limita a falar de si e do seu caso, antes junta elementos para uma memória do Limoeiro; veja-se a página 62: «D. João VI embarcara para o Brasil em 1807, fugindo à invasão de Junot, deixando Portugal como uma péla, sujeita ao jogo de franceses e ingleses. Os cidadãos que lamentavam as desgraças nacionais, os patriotas que pensavam na forma de melhorar a situação, foram perseguidos e presos. Muitos entraram no Limoeiro e Gomes Freire, a mais brilhante figura do exército português, foi encarcerado em S. Julião da Barra e ali sofreu um infame suplício. Os infelizes lançados na cadeia, forma metidos no oratório e sofreram os martírios morais infligidos por padres e frades fanáticos, vendidos em corpo e alma à regência e aos ingleses. Desde o amanhecer do terrível dia, todos os sinos da cidade dobravam a finados. Às duas horas da tarde, saiu do Limoeiro o fúnebre préstito, formado pela misericórdia, confrarias, frades de várias ordens, carrascos, juízes, aguazis e muita tropa. Os onze liberais, coronel Manuel Monteiro de Carvalho, major José Francisco das Neves, alferes José Ribeiro Pinto, ex-alferes António Cabral Furtado de Melo, sargento José Garcia de Morais, José Campelo de Miranda, José Joaquim Pinto da Silva, capitães Manuel Inácio de Figueiredo e Pedro Ricardo de Figueiró, Manuel de Jesus Monteiro e Máximo Dias Roberto iam descalços, de alvas, mãos amarradas, crucifixo pendurado ao peito e corda ao pescoço.»

(Ediora: Fabula Urbis e Apenas Livros, Capa: João Pimentel)

[Um livro por semana 614]

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