Victor
Oliveira Mateus organiza o volume de 67 páginas em três capítulos: «Rito
matinal» (9 poemas), «Poemas de Amor e Morte» (29 poemas) e «Negro com azul ao
fundo» (2 poemas). O título está no poema da página 48: «Aquilo que não tem
nome / abriga-se no silêncio das ruas / acena no topo dos prédios / fala nas
desabrigadas páginas / que o desalento me traz./ Aquilo que não tem nome /
invade-me o corpo / enlouquece as memórias / com que insisto este casulo /
raiado de melancolia./ Aquilo que não tem nome / oculta-se por entre sinais / e
luzes de despedida / pedaço desse mistério / para lá da morte e da vida.»
Há
nestes 40 poemas uma dupla inscrição (Natureza e Cultura) que pode ser lida de
outra maneira mas com o mesmo sentido: Geografia e Literatura. De um lado o Rio
Varosa: «Agora a gincana é uma coisa ao longe, muito ao longe, fora da mulher
que vai acamando as serapilheiras, dos regatos que rumam para o Varosa e dessa
inominável brandura que de ti se apodera e completa.» Do outro lado a Arte
Poética: «Não tens certeza alguma. Não a tens nem isso / te inquieta. Insistes
em não fechar a janela, / essa ardósia rabiscada, essa amálgama de visões / que
te deslumbram e perdem. Mas, vendo / bem, que coisa é essa que se diz com
palavras / que não te pertencem e nem sequer entendes?»
O
ponto de partida é a memória da infância («Nada resta do velho olival da minha
infância») afinal uma espécie de «Imitação da felicidade» como é título dum
poema - «Tudo era alegria naquele tempo com o meu tio / acenando peluches no
canto do postigo e o menino / atrás de uma palmeira, esboçando destinos numa
folha / de papel almaço, para que no futuro tudo / desse errado num outro
presépio sombrio e lasso.» O ponto de chegada é um lugar onde se sabe que a
morte é inevitável («Agora que aqui estás, deixa que o tempo afague este
mármore sob o qual te vieste esconder») mas onde o poeta continua a perguntar
como Camilo Castelo Branco «Onde está a felicidade?»: «a felicidade é tão só
esta espera, esta serenidade entre uma árvore que te ampara e a leveza de um
rio que te acena.» Ou como queria Novalis (1772-1801) e escreveu Maria Eulália
de Macedo (1921-2011) a Poesia oscila sempre entre «as coisas que são verdade e
a verdade das coisas».
(Editora: Coisas de Ler, Posfácio: Ana
Paula Dias, Coordenação: Gisela Gracias Ramos Rosa)
[Um
livro por semana 615]
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