quarta-feira, 7 de junho de 2017

Os mortos de Der Lassine não tiveram tempo nem fotografia


A foto é do livro «Cronologia Enciclopédica do Mundo Moderno» do Círculo de Leitores (1990) tendo sido «trabalhada» pelo Mestre Carlos Vilas. No dia 17-9-1948 o conde Folke Bernardotte, sueco, mediador da ONU na Palestina, é assassinado por terroristas judeus. O Estado de Israel tinha sido proclamado em 14-5-1948 sendo presidente Chaim Weizmann e Ben Gurion o primeiro-ministro. Pouco antes em 20-4-1943 há um massacre de judeus no Gueto de Varsóvia. Esta foto mostra um menino de mãos no ar e pavor nos olhos. Nesse ano de 1948, no dia 9-4-1948 a Irgun e a Stern avançaram durante a noite para Der Yasin ou Deir Iassine (tanto faz para o caso) e massacraram 254 dos seus 750 habitantes tendo dinamitado dez das 144 casas dessa aldeia. O primeiro-ministro Ben Gurion pediu desculpa ao Rei Abdulah da Transjordânia mas os mortos já jaziam nos poços e os sobreviventes já estavam em fuga, cheios de modo e de pavor. Num certo sentido o mesmo medo e o mesmo pavor dos pobres judeus do Gueto de Varsóvia só que desta vez sem tempo nem fotografia. Foi tudo feito de noite, o trabalho sujo de matar os inocentes, não havia máquinas fotográficas porque a acção terrorista foi concretizada de surpresa. Passado pouco tempo as casas restantes da aldeia de Deir Iassine foram arrasadas e no seu lugar nasceu um aeroporto. Houve meninos que morreram em Agadir (era eu criança) no meio dos quinze mil mortos. Também houve meninos que morreram entre os 96 mortos em 1989 no campo de futebol do Sheffield United, o estádio de Hillsborough. Outros meninos morreram em Erevan quando os rios se encheram de sangue e a água mudou de côr. Em Argel morreram outros meninos entre 1957 e 1962 na batalha de Argel na qual o trabalho sujo foi feito pelos para-quedistas franceses. Nada de novo.

(Vinte Linhas 1689)

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