Trata-se da edição autónoma em
livro de um conjunto de poemas, um deles, o da página final, incluído no livro
colectivo «20 Poemas para Ângelo de Sousa» de 2014. José Viale Moutinho
(n.1945) escolhe para título deste seu livro breve (27 páginas) os versos da
página 7 que falam da tarde e da cinza: «Como a cinza fica / nas mãos / apagado
o lume / que nos devora / assim a tarde / parece um álbum / de retratos a
sépia».
A cinza é o que fica depois do
fogo, outra maneira de dizer «palavra» ou «desenho»: «só os desenhos ficam numa
pasta / à espera, à nossa espera / ninguém os poderá apagar /mesmo o vento se
mostra silencioso / com as mãos ocultando o rosto.»
Na ironia do poema o autor
convoca «Fra Angélico» (1395-1455) e chama «Fra angelo» a Ângelo de Sousa: «Fra
angelo abandona a tela / ninguém se lhe assemelha / devagar, fecha a porta / e
sai de casa / nunca mais o tornaremos a ver / nem à mulher.»
«O receio da morte é a fonte da
arte» é um verso de Ruy Belo (1933-1978) que este belo livro de José Viale
Moutinho confirma ao longo das suas 27 breves mas intensas páginas.
(Editora: Apenas Livros, Direcção: Luís Filipe Coelho, Arte final:
Fernanda Frazão)
(Um livro por semana 558)
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