sábado, 10 de junho de 2017

A seita da verdade suprema não é só em Tóquio



Já passaram uns anos mas o autor destas linhas não se esquece: havia uma seita em Tóquio que atirava gás «Sarin» para as estações de Metro. Chama-se (ou chama-se ainda) «seita da verdade suprema». Em Portugal há uma coisa parecida. Vejamos: numa dessas chamadas feiras de garagem que proliferam pela Cidade de Lisboa aparecerem à venda a preços convidativos vários livros sobre o Sport Lisboa e Benfica. Até aqui nada de mal pois é preferível vender a um euro do que mandar para a guilhotina e destruir. O engraçado é que um desses livros intitulado «Amor à camisola», editado pela «Verso da História» e com prefácio de Luisão publica na página 60 esta pérola: «Eusébio foi, e é, único. E o Benfica, o seu clube de sempre.» Percebe-se a denominação de «pérola» porque isto que se lê é uma mentira monstruosa, ignóbil e repugnante. Eusébio nasceu de facto em 1940 como averiguou o dirigente benfiquista senhor Paiva das Neves, o homem do terceiro anel. Eusébio foi jogador do Sporting de Lourenço Marques e, mais tarde, quando voltou dos E.U.A. jogou no Beira-Mar e no União de Tomar. Foi em Tomar que terminou a sua carreira de futebolista. Aliás o nome da editora (Verso da História) já diz muito sobre o seu lugar no outro lado da verdade. Quem escreve o livro coloca-se no terreno da mentira por oposição à verdade. Isto lembra-me as minhas longas conversas com Cruz dos Santos, o jornalista que aparece a entrevistar Eusébio à chegada no aeroporto de Lisboa. Foi na altura em que Eusébio desatou a dizer disparates sobre o ambiente e a vida desportiva de Lourenço Marques nos anos sessenta. «Não ligue, meu caro. Isso é só para agradar ao terceiro anel. O nome dos directores do Benfica que o recusaram quando veio da América, isso ele não diz.» Cruz dos Santos, como sempre, tinha razão. 

(Vinte Linhas 1691)

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