Já
passaram uns anos mas o autor destas linhas não se esquece: havia uma seita em
Tóquio que atirava gás «Sarin» para as estações de Metro. Chama-se (ou chama-se
ainda) «seita da verdade suprema». Em Portugal há uma coisa parecida. Vejamos:
numa dessas chamadas feiras de garagem que proliferam pela Cidade de Lisboa
aparecerem à venda a preços convidativos vários livros sobre o Sport Lisboa e
Benfica. Até aqui nada de mal pois é preferível vender a um euro do que mandar
para a guilhotina e destruir. O engraçado é que um desses livros intitulado
«Amor à camisola», editado pela «Verso da História» e com prefácio de Luisão
publica na página 60 esta pérola: «Eusébio foi, e é, único. E o Benfica, o seu
clube de sempre.» Percebe-se a denominação de «pérola» porque isto que se lê é
uma mentira monstruosa, ignóbil e repugnante. Eusébio nasceu de facto em 1940
como averiguou o dirigente benfiquista senhor Paiva das Neves, o homem do
terceiro anel. Eusébio foi jogador do Sporting de Lourenço Marques e, mais
tarde, quando voltou dos E.U.A. jogou no Beira-Mar e no União de Tomar. Foi em
Tomar que terminou a sua carreira de futebolista. Aliás o nome da editora
(Verso da História) já diz muito sobre o seu lugar no outro lado da verdade.
Quem escreve o livro coloca-se no terreno da mentira por oposição à verdade.
Isto lembra-me as minhas longas conversas com Cruz dos Santos, o jornalista que
aparece a entrevistar Eusébio à chegada no aeroporto de Lisboa. Foi na altura
em que Eusébio desatou a dizer disparates sobre o ambiente e a vida desportiva
de Lourenço Marques nos anos sessenta. «Não ligue, meu caro. Isso é só para
agradar ao terceiro anel. O nome dos directores do Benfica que o recusaram
quando veio da América, isso ele não diz.» Cruz dos Santos, como sempre, tinha
razão.
(Vinte Linhas 1691)
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