Nasci
em Santa Catarina numa casa de músicos. A casa já não existe mas as memórias
não se perdem. Minha avó tinha a alcunha de «Flauta» e meu avô tocava trompete;
começou com um cornetim de 1923 que hoje em 2020 ainda guardo à entrada de
casa. A família Catarinense estava na Filarmónica: meu avô José Almeida, meus
tios Álvaro e Armindo, meu tio Joaquim Freire, meu primo Luís Freire, meus
primos direitos Reinaldo e Luís Almeida. INICIAIS, o meu primeiro livro
individual, foi escrito há 40 anos e publicado há 39. Integra sete poemas
dedicados a compositores e intérpretes: Vivaldi, Handel, Keith Jarret, Maria
Farandouri, Mikis Theodorakis, Paul Williams e Sandy Denny. Isto vem a
propósito do novo CD de Bernardo Matias (n.1996) oferecido pelo primo Luís
Almeida junto ao cemitério de Santa Catarina. Pode parecer insólito mas não é:
tanto a Música como a Poesia procuram juntar de novo tudo o que a morte
separou. Neste caso do CD de Bernardo Matias basta pensar que Isaac Albéniz
(1860-1909) vive de novo numa das faixas (Astúrias) do presente trabalho que
integra onze temas. O CD junta ao som do saxofone, o piano de João Lucena e
Vale na interpretação das peças de Daniel Bernardes, Sérgio Azevedo, Pedro
Francisco, Nuno Roque, Daniel Schvetz, Francisco Chaves e Albéniz num arranjo
do próprio Bernardo Matias. Não sou crítico musical mas vejo nesta viagem de
peças musicais um rumor do Mundo, o mesmo Mundo que vivi de 1951 a 1957 quando
se ouvia o comboio de São Martinho do Porto durante as vagarosas sementeiras
desse tempo. Ou o oceano a bater nas rochas do lado de lá da baía amena. Os
pioneiros de 1428 que se desligaram do Dom Abade de Cister e fizeram uma igreja
nova na nossa terra devem estar orgulhosos de Bernardo Matias. Eu sou um
obscuro publicista e também estou.
[Crónicas
do Tejo 221]
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