O
mais recente livro de António Ferra (n.1947) parte da palavra «bluff» no
sentido de «burla, engano, logro» do jogo de cartas conhecido por póquer, praticado
por quatro elementos com um baralho de 52 cartas. Jogando habilmente com a
narrativa e com as falas do quotidiano, o autor começa cada texto usando a
ironia como por exemplo «Graziela precisava de uma certidão de emagrecimento,
documento imprescindível para voos low cost.» e termina com «Já não faço nada
on line, é tudo bluff, desde que nasceu a minha filha deixei-me disso, nem
mesmo sexo virtual, tenho medo de engravidar outra vez.»
O
ponto de partida é a memória da infância («Eu era ainda muito criança, entrava
sorrateiro na cavalariça, tremia naquele esconderijo, em lusco fusco e
taquicardia.») mas o ponto de chegada é um «descampado periférico» onde
Graziela se queixa «Não, não, é só esta desumanidade que se entranha no corpo.»
Na
homenagem à literatura que toda a literatura, afinal é, julgamos descortinar o
louvor dos textos líricos de Daniel Filipe ou Nuno Bragança no diálogo da fuga
dos amantes: «- Trazes os documentos? – Estão aqui na mala. – Tudo? – O resto
vai na PEN».
(Editora:
Douda Correria, Capa: Inês Mateus)
[Um livro por semana 641]
Sem comentários:
Enviar um comentário