Pedro
Martins (n.1949) trabalhou na Banca e na edição de livros tendo colaboração na
Revista Alentejo e nos jornais Diário de Lisboa, O Ponto, Notícias da Amadora,
Diário do Alentejo, Notícias do Sul e Voz do Povo (2ª série). O prefácio
adverte o leitor («livro breve que não é ficção, não é história com maiúscula e
não é jornalismo») cabendo ao autor na página 70 uma declaração: «Tenho vinte e
três anos, estou na guerra e triste. E também não permitirei que ninguém diga
que estes são os mais belos anos da minha vida.» Esta citação de Paul Nizan
abre espaço para referência a muitos escritores que o autor convoca apesar das
93 páginas: José Rodrigues Miguéis, Aragon, Manuel da Fonseca, Manuel do
Nascimento, Antunes da Silva, Carlos de Oliveira, Fernando Pessoa, Jorge Amado,
Vargas Llosa, Gabriel García Márquez, Daniel Filipe, Maiakovski, Nicolás
Guillén e José Bação Leal mas não só.
O
livro parte de uma experiência pessoal: «A Segunda Repartição, a PIDE militar,
quis mostrar serviço e violou a correspondência sem brio profissional nem
competência. Podiam ter feito desaparecer a carta mas preferiram dizer que a
vigilância continua. Rasgaram o envelope, leram a carta, analisaram o conteúdo,
talvez o tenham considerado inofensivo ou, mesmo, piegas e deixaram as folhas
no saco do correio de Empada.» Mas atinge um olhar sobre a situação geral do
País: «Não dá para recuperar a honra perdida dessa instituição que, há muito,
constitui o pilar principal desse fascismo rústico, beato, de falinhas mansas,
voz esganiçada, amaricada até, que à tortura chama «safanões dados a tempo» e
ao campo de concentração, da morte lenta, do Tarrafal, candidamente chama
colónia penal, tão bem corporizado por essa figura sinistra que nos chegou de
Santa Comba com passagem pelo seminário e Universidade de Coimbra, esse
António, esse Oliveira, esse Salazar, esse filho-da-puta» Nesse tempo (1971-1973)
havia duas verdades, a oficial e a verdadeira. Oficial: «Por acidente com arma
de fogo quando se encontravam de serviço no HMBIS faleceram 02 militares de C.
Caçadores.» Verdadeira: Mortos 2 soldados por um outro soldado português
internado em Psiquiatria no Hospital Militar de Bissau». O livro «Poesias e
Cartas» de José Bação Leal tem um espaço próprio: «Mataram-no em Moçambique, no
Hospital de Nampula mas a mãe não o deixou morrer: foi bater à porta dos amigos
do filho a quem ele tinha escrito. Juntou cartas aos poemas dele que tinha
resgatado do cesto dos papéis para onde ele os atirara e pediu um prefácio a
Urbano Tavares Rodrigues.»
(Editora: Parsifal, Prefácio: Francisco
Belard. Capa: Pedro Gil. Paginação: Augusto Nunes)
José do Carmo Francisco [Um livro por semana 688]
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