Embora
a referência óbvia do livro «Ulisses» seja a «Odisseia» de Homero do qual James
Joyce «aproveitou» os episódios de Telémaco, Nestor, Calipso, Nausica, Circe,
Ítaca e Penélope (entre muitos outros). O ponto de partida do livro é o dia 16
de Junho de 1904 que é afinal para Stuart Gilbert «um dia muito semelhante a
qualquer outro» mas o resultado é, segundo João Palma-Ferreira, autor da
tradução portuguesa, dois anos de trabalho entre 1987 e 1989, «um texto difícil
que por vezes deixa o leitor perplexo, tal a forma deliberadamente elaborada e
exaustiva com que evita as ciladas da narrativa convencional».
Para
quem gosta de sínteses pode ficar esta síntese do autor do livro em 1920 numa
carta a Carlo Linati: «a história de um dia que simboliza a vida». Vejamos a
página 55 do Ulisses de James Joyce (1882-1941) Edição Livros do Brasil: «Feio
e fútil: pescoço esticado e cabelo encrespado e uma nódoa de tinta, um rasto de
caracol. Não obstante, alguém o tinha amado, levara-o nos braços e no coração.
A não ser por isso a corrida do mundo tê-lo-ia calcado a pés, caracol
esborrachado e sem ossos. Ela amara-lhe o sangue aquoso e fraco que do dela
fora escoado. E isso então era real? A única coisa verdadeira na vida?»
Livro
escrito entre Trieste, Zurich e Paris nos anos de 1914 a 1921, o pano de fundo da
acção inicial é a Torre Martello, debruçada sobre a baía de Dublin, a capital
da Irlanda. Claro que a página 55 é apenas a página 55 mas como convite à
leitura julgo estar bem para o assunto, afinal um dos livros mais importantes
do século XX. Um grande livro que por acaso é também um livro grande…
[Crónicas
do Tejo 255]
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