O
livro organizado por Luísa Ducla Soares e editado pela Câmara Municipal de
Lisboa intitula-se «Lisboa de José Rodrigues Miguéis» e reúne em 111 páginas
citações de diversos livros deste autor português (1901-1980). Sobre o Rio Tejo
podemos ler: «Lá ao fundo, o Tejo reluzia como uma colcha de áqua-marina
bordada a prata» e, mais à frente, no mesmo «O milagre segundo Salomé», surge:
«No Tejo lavado e reluzente, alguns destróiers balouçam languidamente,
vaporzitos espertos abrem no ar as sereias estrídulas, um cruzador inglês, todo
branco como um iate, vira com a maré em torno da âncora.» E em «A Escola do
Paraíso» pode ler-se: (…)«o menino olha os telhados de veludo, o céu sereno, o
rio coberto de palhetas de prata cintilantes: são peixinhos que saltam, andam a
brincar, brilham à lua (…)» Em «Idealista no Mundo Real» José Rodrigues Miguéis
escreveu: «O grito de uma sereia no Tejo rasgou o véu azul da manhã. Baltazar
virou-se para as janelas e, com a face apoiada na mão esquerda, ficou a
olhá-las. As andorinhas cortavam o ar, explorando os beirais familiares.
Adivinhava-se o primeiro espreguiçamento da Primavera no ar quase tépido e, ao
fundo, para lá do casario apinhado, a toalha do rio desdobrada ao sol. Nos
telhados forrados de musgo, líquenes e gramíneas, enxugava a humidade dos
chuveiros de véspera.» Não se fica pela paisagem e pelo povoamento o autor de
«O idealista no Mundo Real quando escreve: «A Universidade é uma fábrica de
manequins e de burocratas. Porque é que um labrego que sai das unhas negras da
Escola há-de ser necessariamente um superior? Quantos génios tivemos nós que
nunca por lá passaram – o Herculano, o Oliveira Martins, o Camilo, o Ramalho, o
Gomes Leal, o Lúcio de Azevedo – e os
que o foram apesar dela!»
[Crónicas
do Tejo 223]
(Fotografia
de Luís Eme)
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