Titular
da carteira profissional de jornalista nº 4149, eu estou no Bairro Alto desde
1977. O primeiro jornal onde escrevi foi o «Diário Popular» em 1978 na Rua Luz
Soriano nº 67 e o segundo foi «A Bola» em 1979 na Travessa da Queimada nº 23. O
meu primeiro livro («Iniciais») foi publicado em 1981 pela Moraes Editora na
Rua de O Século nº 34, antiga redacção de «A Capital».
Nada
neste livro de Paulo Martins (n.1962) me é, nem pode ser, indiferente. Desde
logo a citação de Norberto de Araújo, ilustre jornalista: «Os jornais, a fogueira
que arde e que queima – ilumina daqui a cidade e, nas suas faúlhas que
desencontrados ventos nem sempre levam bem, aquece em redor.» Há nos jornais
uma mistura de pessoal e de público: «Por isso os apelidos Coelho (Diário de
Notícias), Silva Graça e Pereira da Rosa (O Século), Burnay e Bordalo Pinheiro
(Jornal do Comércio) Vieira Pinto e Ruella Ramos (Diário de Lisboa), Balsemão (Diário
Popular) percorrem as páginas que se seguem. As famílias perdem influência à
medida que se consuma o assédio da Banca, entre final dos anos 1960 e o início
da década seguinte».
Falar
de jornais é falar de Censura: «Ferreira de Castro conta um episódio em torno
de uma reportagem da sua autoria, nas minas de São Domingos, detidas por uma
empresa inglesa, que foi integralmente suprimida pela Censura. Pereira da Rosa
disse ter lido o texto duas vezes, não encontrando razões para o corte. Debalde
se queixou pelo telefone ao general investido por essa altura em ministro.
Percebeu que o director da mina envolvera no caso o embaixador britânico e
argumentou que em situação inversa, nenhum representante diplomático ousaria ir
ao Foreign Office pedir que o Governo inglês proibisse os jornais de Inglaterra
de se ocuparem dum caso semelhante. De nada valeu.» Na página 264 pode ler-se
sobre as relações entre patrão e empregado o seguinte: «Havia uma relação muito
estreita entre o patrão e o jornalista, confirma Baptista-Bastos. Era também um
certo paternalismo e uma certa conivência mas a gente sabia para quem
trabalhava e falava diretamente com eles.»
Um
aspecto curioso é que os redactores dos jornais desportivos não podiam ser
sócios do Sindicato dos Jornalistas até 1972 restando-lhes a filiação no
Sindicato dos Tipógrafos. Por isso em 1966 foi criado o CNID para permitir as
acreditações do Campeonato do Mundo em Inglaterra. Outro aspecto curioso tem a
ver com as palavras do assessor de Willy Brandt que afirmou em pleno tempo do
«caso República»: «Se querem ganhar dinheiro nunca metam política na primeira
página e não metam também notícias importantes, ponham mulheres e crime.» Por
fim uma ideia que permanece, apesar dos anos que passaram: «Num país pequeno e
analfabeto, era entre o Bairro Alto e o Chiado que se concentravam não apenas
as redacções dos jornais mas também as sedes partidárias – quando não
partilhavam o mesmo espaço.»
(Editora:
Quetzal, Revisão: Carlos Pinheiro, Preparação: Diogo Morais Barbosa, Edição:
Francisco José Viegas, Capa. Rui Rodrigues, Foto: Arquivo Municipal, Produção:
Teresa Reis Gomes)
[Um
livro por semana 620]
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