Este
livro de Fernando J.B. Martinho (n.1938) tem 110 páginas, vai buscar o título à
página 27 e nas suas quatro divisões aborda a figura de Jorge de Sena em
paralelo com a sua Poesia. Logo na página 7 o autor cita Carlos de Oliveira que
definia assim os escritores que contam «aqueles que acrescentam ou opõem alguma
coisa ao que já existe ou o exprimem de maneira diferente.» Fernando J.B.
Martinho é das pessoas que melhor conheceu Jorge de Sena (1919-1978) como se lê
na página 23: «Vivi três anos em Santa Bárbara, na Califórnia. Morei num
apartamento em Isla Vista, perto da Universidade e do Pacífico. Foram três anos
cheios e frutuosos. Era Leitor de Português no Departamento de Espanhol e
Português da Universidade onde, desde 1970, Jorge de Sena ensinava. A casa de
Sena, em Goleta, ficava a dez minutos de carro. Foram muitas as horas que
passei na Randolph Road, em conversas informais na ampla sala onde esteva a
Biblioteca, em chás com torradas e compota de lima ao serão, antes de voltar a
casa, com a Joana e a Rute.»
O
autor define esta Poesia na páagina 42: «sempre a Poesia de Sena soube
dialecticamente combinar a disciplina e
o excesso, a ordem e o tumulto, o clássico e o moderno». Noutro passo explica como, diferente de Régio
ou Torga, Sena escreve uma Poesia sem Teatro: «Não há cenário nem há plateia.
Não há espectáculo. Não há confessionalismo. O que em seu lugar temos é uma
desesperada descida às funduras da alma humana».
Poeta,
ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor, Sena é acima de tudo Poeta como
no auto-retrato publicado no volume
«Peregrinatio ad Loca Infecta»: «Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos /
mágoas, humilhações, tristes surpresas / e foi traído e foi roubado e foi /
privado em extremo da justiça justa / e andou terras e gentes conheceu / os
mundos e submundos; e viveu / dentro de si o amor de ter criado; / quem tudo
leu e amou quem tudo foi / não sabe nada nem triunfar lhe cabe / em sorte como
a todos os que vivem. / Apenas não viver lhe dava tudo / Inquieto e franco,
altivo e carinhoso / será sempre sem pátria/ E a própria morte / quando o
buscar, há-de encontrá-lo morto.»
(Editora: Colibri, Foto: Fernando Bento,
Capa: Raquel Ferreira, Editor: Fernando Mão de Ferro)
[Um
livro por semana 608]
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