Irene Lisboa (1892-1958) nasceu perto de Arruda dos Vinhos e morreu em Lisboa.
Num pequeno convite à leitura e descoberta dos seus livros, revelo uma das suas páginas no livro «Solidão» editado pelo
Círculo de Leitores. Vejamos: «Que dia
tão bonito, tão bonito! Até me parece que vejo a água do Tejo correr e brilhar; Os barcos pequenos
cruzam-se uns com os outros. Tudo se move
para aqueles alegres lados. Era interessante poder reter o que vejo e o que sinto: a fulgência da manhã,
a vibração das coisas, aquela palpitação
da água. Ora me parece que despede faíscas, ora que está cheia de malhas brancas que nos iluminam. Esta terra é curiosa.
De vez em quando parece-me nova e
animadora, conhecendo-a eu embora tanto! Uns cegos que encontrei lá para baixo estão agora ali parados, a cantar.
Rodeados de marçanos e de gaiatos. Uma pequenita
daquela casa encarnada, que me parece de
teatro ou de papelão, onde há muita gente pobre e reparadora, veio pôr-se à janela a ouvir os cegos. Tal
qual uma boneca de trapos! De chapéu de
homem por causa do sol, de cintura muito apertada;
Tudo tem a sua animação, tudo é engraçado. Mas basta-me fechar a janela e pôr-me a escrever para logo tudo se
desanimar». Noutra página Irene Lisboa
reflecte sobre a sua condição de autora: «Tu dizes-me que no que eu escrevo há sempre uma continência ou uma
insuficiência que desconcertam quem me
lê. Sim. Afinal porque é que eu não disse mais? Porque me deixo dominar sempre por um pudor, uma reserva que
limitam a compreensão de quem me lê? Tu
atribuis tudo isso à compressão social, a um hábito de defesa, a um critério moral velho, a um gosto
artístico restrito; É possível
que tenhas razão.»
(O belo desenho de Vítor Simões
junta o Caes das Colunas de 1923 e o Cais das Colunas de 2008)
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