Depois de «Veneza pode
esperar» (2014) e «Só se vive uma vez» (2015) Rita Ferro (n.1955) regressa ao mesmo
registo. No caso concreto trata-se de um «diário» iniciado em 16-1-2019 e
concluído em 30 de Dezembro de 2019 com a particularidade de todas as entradas
começarem com a palavra «Ribatejo» embora Rita Ferro viva em Foros de
Salvaterra. O título do volume está na página 77 que cita o «Diário» de
Virgínia Woolf e o «lugar onde» está assim definido: «As pessoas entram e saem,
umas vindas de Lisboa, outras, daqui mesmo e tem sido um arraial permanente,
facto que nunca previ.» A autora exibe uma enorme lucidez sobre viver cada um
em sua casa: «quanto mais idade vamos tendo mais difícil se torna a
coabitação». O passado está presente («Nasci assim, destemida e imprudente») e
mistura-se á memória na reflexão («Eu era orgulhosa, desafiadora, inconformada
e destemperada») que se segue: «Fiz 64 anos mas pouco tenho a dizer sobre a
matéria. As pessoas partem da noção ingénua de que a aparência é a verdade mas
a verdade é que, para mim, tenho sempre 18 anos.» Entre o passado e o presente ficam
as mudanças: «Estive a contar: são mais de quinze as mudanças que já fiz, desde
que saí de casa dos meus pais. Gosto de me mudar e de começar de novo, noutro
cenário». Na página 16 surge a referência ao local: «Aproveitando a alta do
mercado, vendi o apartamento e comprei bem esta casa, a cinquenta quilómetros
de Lisboa, em pleno Ribatejo. Mudei-me no dia 11 de Dezembro de 2018 e já
passei aqui o Natal.» Claro que nem tudo são rosas: «as amplitudes térmicas
daqui são as de Santarém: geladas no Inverno e sufocantes no Verão.» Uma última
nota para a página 61 quando Rita Ferro comenta a ascensão social dos antigos
criados: «no tempo do Botas este tipo de ultrapassagem popular seria impensável».
(Editora: Dom Quixote, Capa:
Maria Manuel Lacerda, Foto da autora: José Cardigos Bastos, Foto da capa:
Matthew Henry, Edição: Cecília Andrade, Revisão: Clara Boléo)
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