A Associação dos Jornalistas e
Homens de Letras do Porto celebra os 100 anos da Revolução Socialista de
Outubro e os 150 anos do nascimento de Maximo Gorki (1868-1936) publicando «A Mãe», edição fac-símile
da edição portuguesa (Bertrand) em 1907 com sobrecapas originais de Ana
Biscaia, Augusto Baptista, Emerenciano Rodrigues, Inma Doval Porto, João
Bicker, Júlia Pintão, Luís Mendonça e Roberto Machado.
«A Mãe» é um livro de 1906, um
clássico, romance lido pelas mais variadas gerações nas mais diversas
geografias. Pélagué parece ser uma mãe como as outras («as mães não desejam
senão afagos») mas é algo mais; perante a prisão do filho, oferece-se para
introduzir panfletos na fábrica: «Hão-de ver que mesmo com Pavel na cadeia, a
sua mão os atinge!». O seu comportamento assenta na ideia central do
Cristianismo: «creio em Jesus Cristo e nas suas palavras – Amar o próximo como
a nós mesmos». Os motivos da prisão de Pavel estão na página 14: «Leio livros proibidos.
Proíbem a sua leitura porque dizem a verdade da nossa vida, da vida do povo.»
Mas não foram só os livros que o levaram à prisão, também os discursos e as
ideias. Vejamos uma afirmação: «Somos nós que construímos as igrejas e as
fábricas, que fundimos o dinheiro. Sempre e em toda a parte somos os primeiros
no trabalho enquanto nos atiram para os últimos lugares da vida.» e uma
conclusão: «não somos idiotas nem brutos, não queremos só comer mas também
viver como é próprio dos homens.»
Num livro de 431 páginas o
protagonismo não é apenas de Pélagué e Pavel. Vivem e falam neste romance entre
outros André, Fedia, Natacha, Maria, Iegór, Sachenka, Rybine e Nicolao. Apenas
uma voz difere do tom geral, Isaías, operário com mentalidade de patrão: «Se eu
governasse mandava enforcar o teu filho para lhe ensinar a não desnortear o
povo.»
Fiquemos com a página 129.
«Onde estão os felizes?» Isto porque todos os livros poderiam te como título
«Onde está a felicidade» mas Camilo Castelo Branco já o escreveu primeiro…
(Editora: AJHLP, tradução: S. Persky, Versão portuguesa: Augusto de
Lacerda, edição original: Antiga Casa Bertrand 1907, Capa: Emerenciano
Rodrigues)
[Um livro por semana 680]
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