Raul
Brandão (1867-1930) teve a vida em dupla inscrição: foi militar mas também
jornalista e escritor. O que José Manuel de Vasconcelos organizou, selecionou e
prefaciou foi um breviário brandoniano, um livro para ler todos os dias como
quem reza e junta de novo tudo o que a morte separou. Como explica o organizador
deste volume de 100 páginas: «O objectivo do presente livro é, sobretudo, o de
proporcionar a quem não está familiarizado com a obra do escritor, um primeiro
contacto como seu universo, as suas obsessões, as suas inquietações, aquilo a
que se poderia chamar os «grumos» do seu pensamento, esse filosofar
desagregado, repetitivo, de uma liquidez espessa que problematiza com acentuada
expressividade (…) os grandes temas de sempre: o homem, a vida, a morte, o
sonho, Desus.»
Mais
do que um grande escritor (baste referir Húmus, Os Pescadores e As Ilhas
Desconhecidas) Raul Brandão é um assombroso continente de ideias. Fiquemos
apenas com duas. Primeira: «A que se reduz afinal a vida? A um momento de ternura
e mais nada… De tudo o que se passou comigo só conservo a memória intacta de
dois ou três rápidos minutos. Esses sim» Segunda: «A vida antiga tinha raízes,
talvez a vida futura as venha a ter. A nossa época é terrível porque já não
cremos – e não cremos ainda. O passado desapareceu, de futuro nem alicerces
existem. E aqui estamos nós sem tecto, entre ruínas, à espera.»
A
influência de Raul Brandão é transversal na literatura portuguesa actual. Dois
exemplos: Augusto Abelaira publicou um romance com o título de Sem tecto entre
ruínas e o meu livro biográfico sobre Vítor Damas arranca com esta frase de
Raul Brandão – Ser diferente dos outros é já uma desgraça; ser superior aos
outros é uma desgraça muito maior.
(Editora:
Nova Vega, Capa: Paulo Bacelar, Organização, selecção de textos e prefácio:
José Manuel de Vasconcelos, Editor: Assírio Bacelar, Paginação: Jorge
Machado-Dias)
[Um
livro por semana 640]
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