Neste mais recente trabalho literário
de António Ferra (n.1947) há uma adaptação do texto que acompanhava a exposição
«Retratos de Nós» que teve lugar em Lisboa no ano de 2014. Nos «retratos» deste
livro o fotógrafo é o poeta; o poeta é o fotógrafo: «Um vulto no jardim / sobre
o tripé de pano preto». O ponto de partida é uma interrogação: «Quem és tu para
exigir um retrato, para merecer uma imagem? Quem és tua para ordenar a luz e a
sombra? Não respondes, apenas incitas a interrogação nos atavios que ostentas –
jóias, vidrilhos, fios que te levam a energia.»
Ao longo destes 16 poemas há
uma permanente indagação entre o efémero e o fixo, entre o esquecimento e a
memória: «Dama do tempo antigo, de severidade nos lábios, imobilizas o tempo
numa postura ao longo das tábuas. Que um milímetro a mais não te descomponha o
véu a encobrir a nudez que seduz os monstros quando a noite cai sobre rios de
plástico. É eterna essa fugacidade.»
O derradeiro poema do livro dá
conta da permanência dessa já referida indagação: «Nem sequer sei se as emoções
que exibes são uma manobra para eu questionar a tua boca ou se são pedacinhos
de papel que utilizas para atrasar a passagem do tempo.»
(Capa, imagem do autor e artes finais: Pedro Serpa, Impressão:
Gráfica 99)
[Um livro por semana 628]
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