quarta-feira, 8 de maio de 2019

«O leitor irresponsável» de Vergílio Alberto Vieira



Vergílio Alberto Vieira (n.1950) tem vindo a juntar em livro desde 1993 os seus trabalhos de ensaio e crítica literária publicados com regularidade no Jornal de Notícias (1987-1998) e no Expresso (1999-2000) além de outros jornais e revistas mas adverte que tal tarefa é «dar nome a esse crime sem castigo, que leva alguém a reunir, em livro, o que sobre livros escreveu ao longo de anos, não é questão de profissão de fé, mas ofício de aprendiz sem mestre».
Se eu tivesse de sintetizar este livro de Vergílio Alberto Vieira (204 páginas) poderia dar-lhe o nome de «Almanaque Literário» tal como Carlos de Oliveira fez em «O aprendiz de feiticeiro», um livro de 282 páginas no qual o autor de «MIcropaisagem» revisita livros de autores tão diversos como Marguerite Yourcenar, Afonso Duarte, Abel Botelho, Fernando Pessoa, Raul Brandão, Erskine Caldwell, Alves Redol, José Gomes Ferreira, James Joyce ou Tchekov.
Neste livro de Vergílio Alberto Vieira são comentados, entre outros, livros de Louis-Ferdinand Celine, William Blake, Pablo Neruda, Ernest Hemingway, Graham Green, Jorge Luís Borges, Italo Calvino, Paul Celan, António Rebordão Navarro, Fernando J.B. Martinho, Pires Laranjeira, José Emílio-Nelson, Luís de Miranda Rocha, Rosa Alice Branco, Amadeu Baptista, Isabel de Sá, Orlando da Costa, Fernando Assis Pacheco, João de Melo e Luiz Pacheco.
Tal como Carlos de Oliveira faz um retrato de Alves Redol («Vejo-o meio sorridente, a boina basca puxada sobre a testa, a conversa pausada (afabilidade, camaradagem, aflorando palavra a palavra), o trato sereno, quase tímido, dum camponês civilizado que conheceu muito mundo e muito meandro sem desgastar toda a pureza inicial.»), Vergílio Alberto Vieira retrata Al Berto: «Nascido em Coimbra pelo ano de 1948, Al Berto , pseudónimo literário de Alberto Raposo Pidwell Tavares fez obra ao arrepio da sensatez, criou os seus infernos, recusou a quietude, foi homem  de paixão e, se nele havia um «louco» como Emile Cioran admite que há em nós, expulsou-o, cumprindo-se como destino.» Porque os livros não nascem sozinhos, são escritos por um autor.

(Editora: Quarto Crescente, Capa: Imhoteb, Bronze, Revisão do texto: Jorge Fernandes, Composição: César Antunes)

[Um livro por semana 618]

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