A minha paixão pelo jornalismo é muito antiga e não se explica: ainda agora,
em tempo de vacas magras, lá continuo a comprar e a ler dois jornais por semana
além de ler aqueles onde escrevo («Gazeta das Caldas» e «Correio do Ribatejo»)
sem esquecer «O MIRANTE» cuja camisola nunca despi e onde continuo a ter
amigos. Meu neto Pedro tem cinco anos (quase seis) e avançou ontem na produção
de um jornal para circular e ser lido pela família nuclear. Há ali uma mistura
curiosa de televisão e de jornal em papel o que se compreende numa criança de
cinco anos. Ora acontece que aquilo, o jornal do meu neto Pedro, deu-me para o
sentimento e recordei de imediato o meu jornal (de parede), o «Velas do Tejo» quando
na Escola Técnica de Vila Franca de Xira, ainda no Ciclo Preparatório, cheguei
ao cargo de director por decisão da nossa professora de Português. Eu tinha a
idade de onze anos e já sabia que no fim do Curso Geral do Comércio ia trabalhar.
No Montijo, onde vivi de 1957 a 1961, uma senhora muito fina tinha dito algo
como isto - «os filhos dos motoristas não vão para o Liceu». E eu não fui
mesmo. O jornalismo foi também o Liceu que não tive. O meu neto Pedro e o seu
jornal
são a ternura derramada que o meu olhar lhe dedica. Afinal tudo aquilo funciona:
os seus cinco anos ainda não discutem a questão do pó e da posteridade. O
jornalismo é ainda nos seus poucos anos de idade o esplendor do encontro, da
festa e do intervalo entre o cinzento do quotidiano e o arco-íris da
perenidade. Há sombras mas ninguém as vê naquele jornal onde tudo é luz,
comoção e alegria. Um pequeno jornalista que ainda mal sabe escrever, veio
resgatar e dar sentido ao dia do seu avô comovido pelas «notícias» e pelos
desenhos ingénuos deste (quem sabe?) hoje ainda obscuro mas futuro historiador
do quotidiano.
(Ilustração de Charles Dana Gibsons)
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