A
foto do grande Joshua Benoliel (1873-1932) surge no jornal da Exposição da
Fundação Gulbenkian intitulada «O Mundo derrubado» patente ao público de
30-6-2017 a 4-9-2017. Parece-me que a legenda está errada (não tenho a certeza)
pois a viúva do militar sobe a Rua Garrett dirigindo-se à Basílica dos
Mártires. Se descesse estaria a regressar da missa de sufrágio na Basílica.
Tudo isto tem a ver com a Emília Isabel porque a Rua Garrett cruza-se coma a
Rua Serpa Pinto em Lisboa e a Rua Serpa Pinto em Santarém aparece num poema que
escrevi mentalmente à janela da redacção do jornal O MIRANTE nos idos de 1998.
Vinte anos passaram num instante mas o que eu via nas mulheres da Rua Serpa
Pinto em Santarém era a vastidão da Charneca, a riqueza da Lezíria e a
diversidade do Bairro. O Ribatejo, claro. Via e vejo nas mulheres a imagem
directa da terra, sementeiras e colheitas, lágrimas e beijos, alegrias e
tristezas, luz e escuridão, vida e morte.
A
Emília Isabel talvez já não passe pela Rua Serpa Pinto ou se passa eu já não
estou lá à janela para registar em poema esse tempo breve mas intenso entre o
lugar e o espaço, entre a terra e a memória. A beleza da mulher viúva na fotografia
de Joshua Benoliel precipita a minha memória da beleza de Emília Isabel. A
primeira tem o registo objectivo de uma fotografia; a segunda tem o registo
subjectivo de um poema. Em ambos os casos há no olhar da mulher uma clara
rejeição da morte. De 1918 a 1998 são oitenta anos de alegria teimosa contra a
tristeza da morte, da indiferença e do esquecimento. Tal como a Terra, a Mulher
deseja a luz da Primavera que nasce todos os dias porque o Amor nunca desiste
de aparecer na nossa Vida mesmo no mais cinzento quotidiano.
(Crónicas do Tejo 91 - Fotografia de Joshua Benoliel)
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