quarta-feira, 23 de agosto de 2023

«O chão da renúncia» de Aida Baptista

 


Aida Baptista (n.1948) reúne nestas 200 páginas 47 crónicas suas do jornal «Post Milénio» de Toronto e um poema de Eduardo Bettencourt Pinto. O título está na página 45 que afirma a paixão da crónica («guardamos palavras em molduras talhadas na beleza de um texto») de novo relevada na página 89: «Nós, os cronistas, gostamos de saber que somos lidos, mesmo que nem sempre seja devidamente apreciado tudo o que escrevemos.» A autora nasceu no Tabuaço, viveu em Benguela, Helsínquia e Toronto, de novo Benguela e vive no Sardoal mas continua a ouvir uma advertência: «O grande problema do teu casamento com Angola, é que apesar de ela fazer amor contigo todos os dias, te satisfazer os sentidos e te dar muita poesia, beleza e bem-estar físico, não te oferece a compatibilidade intelectual e ética de que necessitas.» As crónicas são uma manta de trapos e cada texto (cada quadrado) uma sobra das coisas que a autora costurou no passado: «Num revejo uma saia da minha filha. Noutro, uma camisa xadrez, à pescador, que havia feito para o meu filho. Hoje será com ela que vou cobrir o futuro em que me deito.» Ou dito de outra maneira: «Cada momento que passa é um laboratório de observação da vida.» Porque «Na vida, os ciclos nunca se dão por encerrados; no quotidiano a perenidade é a cada instante substituída pelo efémero.» África pode ser uma grande lista de faltas («saneamento básico, água potável, recolha de lixo, medidas profilácticas, cuidados médicos, civismo.») porque «Desiludam-se os que sonharam uma outra África porque essa será sempre território de uma burguesia que se acantonou nas melhores vivendas, se desloca nos carros topo de gama e dá festas onde não faltam as melhores marcas de vinho e de whisky. O povo, esse, continuará confinado aos musseques de casa de adobe e terra batida.» A ideia final: «Não se dão indemnizações a quem tudo trouxe consigo. África pertence-me porque ela está dentro de mim! Não há fortuna que a pague!»     

(Editora: Minerva Coimbra, Capa: Marcolino Candeias, Revisão: Eduardo Bettencourt Pinto, Patrocínio: Município de Tabuaço, Apoios: Banco Santander Totta - Toronto, Direcção Regional das Comunidades - Açores)

 [Livros e Autores 12]