quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

«História do Sporting Clube de Portugal» de Luís Augusto Costa Dias com Paulo J.S. Barata

Com o subtítulo de «Uma nova abordagem das origens aos anos Alvalade» este livro de 254 páginas tem o ponto de partida na página 12: «Esta História do Sporting Clube de Portugal é, a vários títulos, nova, antes de mais porque ao inserir a história do clube na história da cultura e do desporto em Portugal, a inscreve na Nova História Cultural, que se coloca no social e radica a análise de factos, pessoas e instituições nos contextos mais amplos das sociedades. Apesar de se tratar de uma nova abordagem, não se pretende fazer aqui uma reescrita de história do Sporting, antes a sua renovação e aperfeiçoamento.» O facto de esta «era» da vida do Clube ser chamada «Anos Alvalade» assenta em Salazar Carreira, conhecido atleta e dirigente que escreveu o seguinte em 1922 no Boletim do SCP: «Quando um dia se escrever a história do nosso clube, já cheia de páginas de glória, ligando intimamente a sua vida à vida do desporto português, salientar-se-á formidavelmente a influência indirecta de José Alvalade no desenvolvimento do desporto nacional.» Afirma-se na página 61 «José Alvalade não foi apenas um criador de instalações desportivas; foi sobretudo um excelente organizador, obstinado, rigoroso, meticuloso. Foi ainda um conceptualizador, um empreendedor e um concretizador de planos. As suas ideias veiculam uma nova noção de desporto e de prática desportiva.» Eis uma citação do seu texto de 1910: «O carácter português é orgulhoso e sobretudo pouco paciente. O seu desideratum é conseguir em pouco tempo, ou para ser mais exacto, é conseguir mais do que pode ser.» Do Sport Club de Belas em 1902 ao Campo Grande Foot-ball Club em 1904 e ao Sporting Clube de Portugal em 1906, é uma «viagem» a não perder.       

(Editora: Contraponto, Edição: Paulo Morais e Raul Couceiro, Revisão: Luísa Pinho e Cristina Dionísio, Design da capa: Diana Cordeiro)

 [Livros e Autores 30]


domingo, 12 de dezembro de 2021

Para acabar de vez com a violência doméstica

Neste trabalho de «Ler e depois» como lhe chamou o ensaísta Óscar Lopes, recebo livros desde Agosto de 1978 quando comecei no «Diário Popular». Estes anos passaram num instante Um dos mais recentes livros que me chegou às mãos foi «Poemas para acabar com a violência doméstica» de Anne Quetzal, edição da Rosmaninho-Editora de Arte de Santarém. O título precipita em mim uma dissertação que engloba a chamada violência contra idosos – a que eu conheço melhor. Um certo jornalismo de castanholas e pandeiretas usa e abusa na Imprensa, na Rádio e na TV da expressão «violência doméstica» aplicada apenas e só a um dos lados da questão como se só existisse agressão da parte do homem contra a mulher ou do jovem contra o mais velho. No caso da chamada violência contra o idoso quero lembrar dois factos do meu conhecimento. Uma senhora de Penedono desloca-se com frequência com a filha e o marido para tratar de análises no Centro de Saúde onde a filha vive. Faz força e finca-pé para levar com ela uma galinha dizendo que «Os ovos do supermercado não prestam e só como ovos da minha galinha!» Claro que os tapetes do automóvel são obrigatoriamente lavados pois o cheiro e a porcaria são insuportáveis. Outro caso é o de um idoso que durante quatro anos recebeu a visita de um dos três filhos todas as segundas feiras para almoçar com ele. A recepção era invariavelmente esta: «Nunca esperei ser tão desprezado!» Com algum esforço se chega à ideia de que ele referia os outros filhos que estavam a trabalhar em Lisboa e não podiam deslocar-se numa segunda-feira de manhã. Conclusão provisória: a violência existe mas tem um sentido muito diferente do que as pandeiretas e as castanholas teimam em afirmar.      

[Crónicas do Tejo 296]