segunda-feira, 26 de abril de 2021

«Florir na Charneca» de José Correia Tavares


José Correia Tavares (1938-2018) estreou-se nos anos sessenta do século XX com «Dádiva» (1961) e «A flor e o muro» (1962) e este recente «Florir na Charneca» é o seu segundo livro póstumo, tendo sido escrito na Charneca de Caparica numas férias de Verão. Conta com 90 páginas e divide-se em quatro sequências: «Balanço provisório»,«Fio de prumo»,«Com peso e medida» e «Tudo em aberto».

No prefácio José Manuel Mendes situa a obra de José Correia Tavares como exprimindo «uma tensão criativa entre as tradições fono-rítmicas, sentenciosas efabulatórias com origem popular, que renovou nos temas e formas, sobretudo ao eleger a quadra modo dilecto de respiração em verso, e a poética contemporânea, investida no trabalho da linguagem, numa busca das novas possibilidades do realismo, na abertura a instâncias sem fronteiras – da matriz lírica a um pendor sócio-interventivo com lugar para o humor e para a sátira.»

Dois exemplos dos poemas pessoais, digamos do lado do «eu»: «Já não tenho a energia / De quando era adolescente / Mas, no amor, na poesia, / Basta querer, vou à frente.» ou então «Sereias ias buscar /Uma ou duas sempre tinhas, /Velho, agora, frente ao mar /Riem de ti as sardinhas.»

E dois poemas desta vez do lado colectivo, o do «nós»: «Qualquer coisa como isso /Nada mais se pretendia/ Mas, daqui levou sumiço/ O que foi democracia» ou então «No país sem berbicacho, /Diria, de norte a sul, /Bem raro será o tacho /Que não tenha saco azul.»

(Editora: Húmus, Foto e apresentação: Natércia Tavares, Prefácio José Manuel Mendes, Apoio. Câmara Municipal de Almada)

 [Um livro por semana 666]

 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

«Almanaque da Língua Portuguesa» de Marco Neves

Declaração de interesses: sou um apaixonado por almanaques, tenho uma vasta colecção, consegui o do meu ano de nascimento (1951) e espero publicar em 2021 um livro baseado no conceito de almanaque para celebrar os meus 50 anos de vida literária. Tenho também a «Miscellanea» de Miguel Leitão de Andrade, «Os Narcóticos» de Camilo Castelo Branco e «O aprendiz de feiticeiro» de Carlos de Oliveira. Não estou mal…

O Dicionário de António de Morais Silva (1988) indica como significado de «almanaque»: «calendário com os dias do ano, festas, feriados, etc.; folhinha, Livro que contém indicações úteis, trechos de literatura, resenha de acontecimentos, poesias, anedotas, charadas, etc.; anuário.»

Sobre o «Almanaque» de Marco Neves (n-1980) que é o seu décimo livro, apenas algumas notas. As palavras mais bonitas estão na página 194: saudade, amor, mãe, felicidade, mar, menina, borboleta, flor, Portugal, amizade paz, melancolia e livro. As mais feias estão na página 158: badalhoco, escroque, cônjuge, ódio, sovaco, escarro, corrupção, porrada, conspurcar, nauseabundo, furúnculo e picheleiro. Também as palavras mais pequenas estão na página 195: «bá, cá, dá, fá, gã, há, já, lá, má, na, pá, rã, Sá, tá, vá, Xá, zá.» Os erros mais comuns cabem na página 118: «fizes-te, prontos, á, concerteza, quaisqueres, subir para cima, a gente vamos, haviam muitas pessoas, há x anos atrás, fizestes, à/há e hades».

Sobre o Crioulo há uma possível origem («crias, crianças, criados, crioulos») e sobre o Português pode ler-se na página 137: «Antes do latim de onde veio o português, tivemos o itálico; antes do itálico, o indo-europeu, antes do indo-europeu, outras línguas, que não conhecemos, numa sucessão que vem do fundo de muitos milénios desde a origem da linguagem humana. É bem provável que, num qualquer momento de história das línguas que vieram a dar ao português, tenha havido um crioulo metido ao barulho, um povo que entrou em contacto com outro povo, nascendo daí uma outra língua, diferente das duas línguas-mãe…»             

(Editora: Guerra e Paz, Revisão: Ana de Castro Salgado, Capa e Paginação: Ilídio Vasco, Fotos. Inácio Ludgero)

 [Um livro por semana 665]