domingo, 25 de novembro de 2018

«Uma casa é como uma árvore por dentro» de Luís Filipe Maçarico



O título deste livro de Luís Filipe Maçarico (n.1952) surge na página 42 no último poema deste volume de 54 páginas: «Uma casa é como / uma árvore por dentro / crescemos e somos raízes / emaranhamos pelas paredes / e das varandas abertas / chegam, desde a infância / o ar o vento e o sol / que são a seiva dos dias.»
O ponto de partida é a casa da Praça da Armada: «Na implacável contabilidade / das noites onde envelheço / à janela das velha casa / entre as brisas de Junho / e os nevoeiros de Dezembro / permaneço.»
O ponto de chagada é Almada em «O meu novo quarto»: «O meu novo quarto / tem o dobro do espaço / daquele onde dormi / sessenta e três anos.»
Pelo meio surgem as diversas viagens. Seja no Elevador do Lavra (‘Há um jardim suspenso / no cimo e cúpulas de luz /sobre velhos prédios») seja no eléctrico 19 («Escutar sensualildades / desfrutar o sabor / dos vocábulos / no prazer das frases /murmuradas / enquanto a cidade cintila») seja o Cais do Sodré: «Eis o caminho a sombra / os passos o destino / varres sonos sobre marés.»
Mas outras viagens podem ser fora do país como Tozeur («Tomoko é o melro / de Yokohama / no café da manhã») como Jerba («O meu amigo diz-me / que o verdadeiro muçulmano / procura a paz/ encontrando no Corão / um bálsamo / para os males do Mundo» ou dentro do país m Alpedrinha: «Entro na manhã / que espalha jorros de luz / sobre a terra verde das / árvores nuas.»    
O conjunto ide 54 páginas inclui quatro páginas de «Impressões» assinadas por Maria Alberta Menéres, José Gomes Ferreira, Mário Castrim, Albano Martins, Eugénio de Andrade, Álvaro Cunhal, Carlos Fernandes, Fernando Paulouro Neves, Mohamed Loffi Chaibi, Paula Cristina Lucas, José do Carmo Francisco, Salem Omrani, Isabel Mendes Ferreira, Manuel Frexes, Ana Machado, Miguel Rego, Margarida Almeida Bastos, Maria Antonieta Garcia e Suso Sudón.

(Prefácio: Eduardo Olímpio, Fotografia: Maria Clara Amaro, Capa: Marta Barata)

[Um livro por semana 601]

sábado, 17 de novembro de 2018

«Freguesia do Divino Espírito Santo da Feteira» de Carlos Lobão



Carlos Lobão (n.1959) é professor de História na Escola Secundária Manuel de Arriaga onde fundou o Clube de Filatelia «O Ilhéu» e tem publicada uma vasta obra fruto do seu trabalho de investigação histórica. Recebeu da Câmara Municipal da Horta em 2013 um Diploma e uma Medalha de Mérito Municipal.
Este livro sobre a Feteira tem 223 páginas e parte de uma certeza do autor: «a história não é nem deve ser entendida como um exercício de relações públicas, arte de elogiar ou condenar defuntos mas antes um esforço para compreender os outros, nas suas especificidades, nas suas diferenças. Vê-los como pessoas do tempo em que viveram. Por conseguinte, se somos é porque fomos.»  
A Ilha do Faial conta com 13 freguesias: Feteira, Castelo Branco, Capelo, Praia do Norte, Cedros, Salão, Ribeirinha, Pedro Miguel, Praia do Almoxarife, Flamengos, Conceição, Matriz e Angústias. Trata-se aqui (Feteira) de um percurso na História: «a primeira referência à Feteira data de 1568, ano em que o rei D. Sebastião mandou pelo Decreto de 30 de Julho, aumentar a côngrua do seu vigário, elevando-a de 10$000 réis para 20$000.» Mas também na religião: «A religiosidade açoriana é proclamada de uma maneira incontestável, visível no grande número de igrejas, conventos, capelas, ermidas e nichos existentes em todas as ilhas (daí a estreita ligação entre arte e religião) além das inúmeras festas religiosas com luzidas procissões e grande número de romeiros/peregrinos.»
Geografia, História, Economia, Religião, Instrução, Folclore, e Desporto são o título de alguns dos capítulos deste livro em cujas páginas a História se quer «compreensiva , rigorosa na sua metodologia, interrogativa mais do que explicativa e alheia a qualquer tipo de missão». Num duplo registo de geral e de particular encontramos o pintor, desenhador e gravador Rogério Silva (1929-2006) que fundou com Almeida Firmino e Emanuel Félix a Revista Gávea.  
  
(Edição/ Capa: Junta de Freguesia da Feteira, Apoios: Prorural, Leader, Governo dos Açores, Portugal 2020 e União Europeia)

[Um livro por semana 600]

terça-feira, 6 de novembro de 2018

«Histórias da minha rua» de Maria Cecília Correia



Sobre a obra e a vida de Maria Cecília Correia (1919-1993) decorre até 16 de Novembro deste ano no Espaço Academia Estrela (Rua do Quelhas, 32 – Lisboa) a exposição «Comemorar Maria Cecília Correia» da Biblioteca da Junta de Freguesia da Estrela. O livro de estreia desta autora («Histórias da minha rua») venceu o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho de 1953 e tem tido sucessivas reedições. O volume integra dez histórias a partir do espaço do quotidiano citadino que é o ponto de partida para outros lugares povoados pela magia, pelo sonho e pela beleza.
 Vejamos três exemplos. Em «História do Chico e da Angelina» podemos ler: «O Chico e a Angelina eram pobres. Viviam numa barraca muito velha, no meio de outras barracas velhas, lá para o outro lado do rio, mas ainda muito longe do rio. Todos ali eram pobres, todos berravam uns com os outros mas todos eram amigos e se ajudavam. Eram pobres porque ganhavam pouco, viviam longe e tinham que pagar a camioneta e o barco.» A «História do pessegueiro que falava com as pessoas» abre deste modo: «Os meninos que têm um jardim grande, com muitas flores, mangueiras para regar e lagos com repuxo, não achariam muita graça aquele quintal pequenino. Mas a verdade é que havia ali muitas coias diferentes que não havia nesses jardins grandes. Era um quintal onde tudo podia acontecer.» Por fim a «História da Rosa» pode, num certo sentido, resumir o espírito das outras dez histórias: «A rosa foi para a jarra preta. Ela se calhar não queria mas eu cortei-a e trouxe-a para casa. Mas ela gostaria de ter ficado no jardim, eu sei. Então fui falar com a rosa. Disse-lhe que a casa tinha muitas coisas lá dentro, tinha Amor, Crianças, Saudade. Faltava-lhe a Beleza. E foi por isso que a tirei da roseira para a pôr na cantarinha preta.»      
As magníficas ilustrações de Maria Keil (Amaral) são um valor acrescentado à beleza do livro. Uma maravilha a não perder.
(
Editora: Avis Rara, Ilustrações: Maria Keil)

[Um livro por semana 599]