Sobre
a obra e a vida de Maria Cecília Correia (1919-1993) decorre até 16 de Novembro
deste ano no Espaço Academia Estrela (Rua do Quelhas, 32 – Lisboa) a exposição
«Comemorar Maria Cecília Correia» da Biblioteca da Junta de Freguesia da
Estrela. O livro de estreia desta autora («Histórias da minha rua») venceu o
Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho de 1953 e tem tido sucessivas reedições. O
volume integra dez histórias a partir do espaço do quotidiano citadino que é o
ponto de partida para outros lugares povoados pela magia, pelo sonho e pela
beleza.
Vejamos três exemplos. Em «História do Chico e
da Angelina» podemos ler: «O Chico e a Angelina eram pobres. Viviam numa
barraca muito velha, no meio de outras barracas velhas, lá para o outro lado do
rio, mas ainda muito longe do rio. Todos ali eram pobres, todos berravam uns
com os outros mas todos eram amigos e se ajudavam. Eram pobres porque ganhavam
pouco, viviam longe e tinham que pagar a camioneta e o barco.» A «História do
pessegueiro que falava com as pessoas» abre deste modo: «Os meninos que têm um
jardim grande, com muitas flores, mangueiras para regar e lagos com repuxo, não
achariam muita graça aquele quintal pequenino. Mas a verdade é que havia ali
muitas coias diferentes que não havia nesses jardins grandes. Era um quintal
onde tudo podia acontecer.» Por fim a «História da Rosa» pode, num certo
sentido, resumir o espírito das outras dez histórias: «A rosa foi para a jarra
preta. Ela se calhar não queria mas eu cortei-a e trouxe-a para casa. Mas ela gostaria
de ter ficado no jardim, eu sei. Então fui falar com a rosa. Disse-lhe que a
casa tinha muitas coisas lá dentro, tinha Amor, Crianças, Saudade. Faltava-lhe
a Beleza. E foi por isso que a tirei da roseira para a pôr na cantarinha
preta.»
As
magníficas ilustrações de Maria Keil (Amaral) são um valor acrescentado à
beleza do livro. Uma maravilha a não perder.
(
Editora: Avis Rara, Ilustrações: Maria
Keil)
[Um
livro por semana 599]
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