domingo, 5 de novembro de 2017

«Passeio Mágico com Romeu Correia» de Luís Alves Milheiro


Luís Alves Milheiro (n.1962) celebra neste seu mais recente livro o centenário do escritor almadense Romeu Correia. Nascido em Cacilhas no ano de 1917, o autor de «Desporto-rei» reclamou-se sempre «um produto do movimento associativo», foi atleta em diversos clubes entre eles o Sporting Clube de Portugal de 1940 a 1945 («muita saudade e ternura») mas sempre se definiu como um contador de histórias: «Se tivesse nascido há mil anos, não teria sido cobrador no Banco, seria um contador de histórias. E sentir-me-ia muito honrado em andar de terra em terra, de povo em povo.» 
O ponto de partida deste trabalho é simples e complicado ao mesmo tempo; dizia este autor: «Escrevo para fugir à solidão. Escrevo para tentar ser amado. Escrevo pra ser solidário. Sou um trabalhador que escreve histórias sobre a vida de outros trabalhadores». O seu sonho, que ficou sempre em suspenso pois tinha que ganhar a vida num emprego, era «fazer um longo estágio por Feiras e Romarias» pois deste modo, contactando com feirantes e saltimbancos, ficaria a conhecer mais teatro do que «em qualquer conservatório estrangeiro.»
Há um lado fascinante neste «Romeu Correia por ele mesmo» que Luís Alves Milheiro criou a partir de entrevistas deste autor hoje centenário a jornais e revistas. Trata-se da referência a outros artistas. Vejamos o que diz sobre Manuel Ribeiro de Pavia: «De uma só peça. Duro como um chavelho mas, ao mesmo tempo, delicado como uma flor. Pequeno, moreno, de mãos cabeludas e retorcidas como raízes.» Ou sobre Sebastião da Gama: «Nos últimos meses de 51, navegava eu num ferry-boat para Lisboa quando, detrás dos automóveis, oiço um tremendo grito que me sacudiu: Ó Calementoso! Calamentoso! A voz e o atrevimento eram-me familiares mas aquele termo Calementoso? Volto-me e aparece-me por detrás de uma carroça, o Sebastião. Faz uma grande festa e esclarece-me: Éh pá, chamei-te Calamentoso porque escreveste o «Calamento», o romance dos pescadores da Caparica!»
A segunda parte do livro ficciona uma entrevista com Romeu Correia neste ano de 2017 (ano do Centenário) mas se tivermos que resumir tudo em duas linhas poderemos ficar pela página 120: «Foi uma luta sobretudo cultural, fundando bibliotecas, escrevendo romances, contos e peças de teatro.»

(Edição: SCALA, Capa: Mártio, Revisão: Diamantino Lourenço, Apoio: C.M. Almada)

(Um livro por semana 575)

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