Luís Alves Milheiro (n.1962) celebra neste seu mais recente
livro o centenário do escritor almadense Romeu Correia. Nascido em Cacilhas no
ano de 1917, o autor de «Desporto-rei» reclamou-se sempre «um produto do
movimento associativo», foi atleta em diversos clubes entre eles o Sporting
Clube de Portugal de 1940 a 1945 («muita saudade e ternura») mas sempre se
definiu como um contador de histórias: «Se tivesse nascido há mil anos, não
teria sido cobrador no Banco, seria um contador de histórias. E sentir-me-ia
muito honrado em andar de terra em terra, de povo em povo.»
O ponto de partida deste trabalho é simples e complicado ao
mesmo tempo; dizia este autor: «Escrevo para fugir à solidão. Escrevo para
tentar ser amado. Escrevo pra ser solidário. Sou um trabalhador que escreve
histórias sobre a vida de outros trabalhadores». O seu sonho, que ficou sempre
em suspenso pois tinha que ganhar a vida num emprego, era «fazer um longo
estágio por Feiras e Romarias» pois deste modo, contactando com feirantes e
saltimbancos, ficaria a conhecer mais teatro do que «em qualquer conservatório
estrangeiro.»
Há um lado fascinante neste «Romeu Correia por ele mesmo» que
Luís Alves Milheiro criou a partir de entrevistas deste autor hoje centenário a
jornais e revistas. Trata-se da referência a outros artistas. Vejamos o que diz
sobre Manuel Ribeiro de Pavia: «De uma só peça. Duro como um chavelho mas, ao
mesmo tempo, delicado como uma flor. Pequeno, moreno, de mãos cabeludas e
retorcidas como raízes.» Ou sobre Sebastião da Gama: «Nos últimos meses de 51,
navegava eu num ferry-boat para Lisboa quando, detrás dos automóveis, oiço um
tremendo grito que me sacudiu: Ó Calementoso! Calamentoso! A voz e o atrevimento
eram-me familiares mas aquele termo Calementoso? Volto-me e aparece-me por
detrás de uma carroça, o Sebastião. Faz uma grande festa e esclarece-me: Éh pá,
chamei-te Calamentoso porque escreveste o «Calamento», o romance dos pescadores
da Caparica!»
A segunda parte do livro ficciona uma entrevista com Romeu
Correia neste ano de 2017 (ano do Centenário) mas se tivermos que resumir tudo
em duas linhas poderemos ficar pela página 120: «Foi uma luta sobretudo
cultural, fundando bibliotecas, escrevendo romances, contos e peças de teatro.»
(Edição: SCALA, Capa:
Mártio, Revisão: Diamantino Lourenço, Apoio: C.M. Almada)
(Um livro por semana 575)
Sem comentários:
Enviar um comentário