Do Largo do Chiado vê-se o Rio
Tejo e os cacilheiros até parece que «estacionam» nos telhados dos prédios do
Cais do Sodré e da Rua do Alecrim. Quando o jornal desportivo A BOLA era
publicado às segundas, quintas e sábados, quando estava algum calor na cidade e
não havia ar condicionado na redacção do jornal, o Carlos Pinhão (meu mestre
informal de Jornalismo) vinha até à janela que dava para a Rua Diário de
Notícias ver as cenas próprias do Bairro Alto: uma taberna, uma velha, um rapaz
atrevido a chamar-lhe velha, um berreiro interminável. No fim nascia um poema
que eu viria a ler mais tarde num livro de Luiz Pacheco. Longe vai o tempo de
Eça de Queiroz escrever «o que um pequeno grupo de jornalistas, de políticos,
de banqueiros, de mundanos, decidir no Chiado que Portugal seja – é o que
Portugal é.» Lá pelos idos de 1966 ainda se dizia que o Chiado era um Estado
dentro do Estado: tinha como qualquer Estado o seu Governo, o seu Parlamento, a
sua Academia e a sua Catedral. O facto de um meu livro de crónicas ter o título
de «Entre o Chiado e os Açores» levou-me a procurar saber mais sobre este lugar
mágico, pitoresco e elegante Sempre ouvi falar do poeta António Ribeiro Chiado
como estando na origem do nome do Largo e, por reflexo, do espaço à sua volta.
Um belo dia Alberto Pimentel encontra um documento datado de 1567 mencionando
um tal Gaspar Dias, de alcunha «o Chiado», como proprietário de uma taberna que
se situou um pouco acima da esquina da actual Rua do Carmo com a Rua Garrett.
Será o Chiado taberneiro ou o Chiado poeta o tronco genealógico do Chiado
artéria alfacinha? Isso não sei nem estou interessado em saber. Sei que, como
Carlos Pinhão descobriu há muitos anos, uma taberna é como um poema, um lugar
feliz onde ninguém está só.
(Crónicas do Tejo 115)
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