O jornalista como historiador do
quotidiano
Quando
comecei a escrever nos jornais (1978) Jacinto Baptista afirmava no «Diário
Popular» - «o jornalista é o historiador do quotidiano». Ora o quotidiano
português em 9-4-1891 (já lá vão 127 anos) era dominado pelo Ultimato Britânico
de 1890 e pelo movimento patriótico que se levantou contra aos ingleses. O
patriotismo era comum a toda as classes sociais. Basta lembrar que as
comemorações camonianas de 1880 foram financiadas pelo Conde de Burnay, que o
Duque de Palmela devolveu as suas condecorações trazidas de Londres ao
embaixador inglês em Lisboa e que a Duquesa de Palmela organizou uma «sopa dos
pobres» em Lisboa. Associações, Clubes e Filarmónicas ganhavam expressão. Mas
não era só Luís de Camões que se comemorava: o 24 de Julho (de 1833) marca a
chegada a Lisboa das tropas liberais, o 1º de Dezembro (de 1640) marca a
recuperação da independência nacional e sem esquecer a romagem anual ao túmulo
de Joaquim António de Aguiar (1793-1871) conhecido como o «Mata Fardes». O
Governo inglês sonhava com um corredor continental em África do Cairo ao Cabo
mas o chamado Mapa Cor-de-Rosa propunha que Portugal ocupasse o vasto
território entre Angola e Moçambique. Em 11-1-1890 o embaixador britânico em
Lisboa exigiu a retirada imediata das forças militares portuguesas estacionadas
no Noroeste de Moçambique (Chire e Machona) e ameaçando com o uso da força caso
o nosso país não aceitasse a exigência até às 10 horas da noite do dia
11-1-1890. O Governo português reúne-se de emergência com o Conselho de Estado
e salvo duas excepções, todos os membros do Governo e do Conselho de Estado aceitam
a imposição britânica. Claro que a 14-1-1890 o Governo demitiu-se e o novo
Governo (regenerador) aceitou o Ultimato. O resto está nos livros, é História.
Mas o «Correio do Ribatejo» que hoje, continua o que começou há 127 anos como
«Correio da Extremadura», é também, História. O passado dá a todos nós que o
fazemos hoje um orgulho, uma vontade e uma força enormes, o futuro é um
horizonte de muitas coisas possíveis. O presente é esse intervalo feliz entre o
passado e o futuro, espaço no qual o sonho dos pioneiros de 1891 continua
activo e desafiador: contar às pessoas as suas próprias histórias, fazer da
cada novo jornal um ponto de encontro, ser o historiador do quotidiano de todos
nós.
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