Não
é por acaso que o poema que dá o título ao mais recente livro de Luís Filipe
Maçarico (n.1952) está datado de 1991 – o ano dos primeiros livros de poemas
deste autor. De facto «Da água e do vento» e «Mais perto da terra» são de 1991
e 1992. Vejamos o poema em causa, escrito em 28-8-1991 na viagem de comboio
Tunis/Nabeul: «Ao sul / da água / entre camelos / e pedras esbraseadas / a
Tunísia / enreda-se / num manto / de dunas / escaldantes / onde cada nómada /
traz nas mãos / aquela pequena sabedoria / de estrelas repartidas.»
A
relação entre paisagem e povoamento está na origem do poema com data de
14-10-1995 «As oliveiras de Jerba»: «Trago as oliveiras de Jerba / No olhar.
Velhas raízes / Atravessando o tempo / Com sede de luz / Trago as oliveiras da
ilha / Nas veias / Para escrever o poema».
Na
viagem do poeta (e do poema) o oásis de Tozeur, com as suas 200 nascentes de
água, está inscrito no poema de 21-10-1992: «No silêncio rumoroso / Da noite/
Escutarás a água / Irrigando / Os mais deliciosos / Jardins de versos.»
Entretanto na ilha de Jerba a praia de Tanit é um apelo a ficar em 17-10-1994:
«Neste entardecer de alabastro / O mar é um arado de esmeraldas / A tecer
caligrafias de luz».
Mas
chega o momento triste da despedida com o poema «País do sonho» datado de
24-10-1995: «Ficaste na obscuridade / Dos lugares onde a poeira / Se entranha
na língua / E não há palavras / Que me devolvam a tarde / Onde eu era um
sorriso / E tu, a nascente. / É de lama, o dia. As águas / Caíram como uma
revolta / No país do sonho. As lágrimas / Guardo-as para quando acordar…»
(Capa e desenhos: Luís Filipe Maçarico,
Textos: Martinho Marques, Eduardo Olímpio, Margarida Almeida Bastos, Miguel
Rego, Ana Machado e Salem Omrani)
(Um
livro por semana 563)
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