Algumas
patacoadas escritas sobre os mortos de Pedrógão Grande e o assalto a Tancos
levaram-me a lembrar os 25 mortos do Regimento da Artilharia Ligeira de Queluz
na Serra de Sintra no dia 8-9-1966. Folheando o Diário de José Gomes Ferreira
(1900-1985) leio esta entrada relativa a esse dia: «Esta madrugada ouvi, pela
primeira vez nos longos anos da minha existência, os regougos de uma raposa
perto de casa. Descoberta de um mundo misterioso que aproveita o
ante-nascimento do Sol para a liberdade sem homens.» em 1966 havia a Censura e
o Senhor da Serra era longe de Sintra. Só em 17 de Setembro de 1966 o «poeta
militante» escreve «De novo em Albarraque». O Senhor da Serra é perto de
Coimbra e Sintra é perto de Lisboa. Num país pequeno como Portugal essas ciosas
contam. Na Rua do Ouro os cafés estavam cheios de gente ansiosa por notícias
não «visadas pela Censura». A verdade é que 51 anos passaram num instante e
todas as mortes nos dizem respeito. Mesmo quando não parece. No dia 12 de
Janeiro de 1966 José Gomes Ferreira (1900-1985) escreveu no seu Diário: «Em
Janeiro de 1966 existem em Portugal 13 escritores cujos nomes não podem sair
nos jornais. A saber: quatro componentes do júri que deu o prémio ao Luandino
Vieira: Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Botelho e Manuel
da Fonseca. E os nove assistentes que em Roma, na reunião da Comunidade
Europeia de Escritores, votaram a expulsão do Paço de Arcos: Sophia de Mello
Breyner, Mário Sacramento, Natália Correia, Francisco Rebelo, Jorge Reis,
Fausto Lopo de Carvalho, o Tareco, o José Augusto França e o Urbano Tavares
Rodrigues. E neste país de abaixo-assinados ainda não apareceu nenhum protesto
de escritores contra este facto inaudito que nos marca a todos a ferro em
brasa.»
(Crónicas
do Tejo 93)
Sem comentários:
Enviar um comentário