domingo, 10 de dezembro de 2017

Pedrógão Grande, Tancos e José Gomes Ferreira - o Senhor da Serra é longe de Sintra


Algumas patacoadas escritas sobre os mortos de Pedrógão Grande e o assalto a Tancos levaram-me a lembrar os 25 mortos do Regimento da Artilharia Ligeira de Queluz na Serra de Sintra no dia 8-9-1966. Folheando o Diário de José Gomes Ferreira (1900-1985) leio esta entrada relativa a esse dia: «Esta madrugada ouvi, pela primeira vez nos longos anos da minha existência, os regougos de uma raposa perto de casa. Descoberta de um mundo misterioso que aproveita o ante-nascimento do Sol para a liberdade sem homens.» em 1966 havia a Censura e o Senhor da Serra era longe de Sintra. Só em 17 de Setembro de 1966 o «poeta militante» escreve «De novo em Albarraque». O Senhor da Serra é perto de Coimbra e Sintra é perto de Lisboa. Num país pequeno como Portugal essas ciosas contam. Na Rua do Ouro os cafés estavam cheios de gente ansiosa por notícias não «visadas pela Censura». A verdade é que 51 anos passaram num instante e todas as mortes nos dizem respeito. Mesmo quando não parece. No dia 12 de Janeiro de 1966 José Gomes Ferreira (1900-1985) escreveu no seu Diário: «Em Janeiro de 1966 existem em Portugal 13 escritores cujos nomes não podem sair nos jornais. A saber: quatro componentes do júri que deu o prémio ao Luandino Vieira: Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Botelho e Manuel da Fonseca. E os nove assistentes que em Roma, na reunião da Comunidade Europeia de Escritores, votaram a expulsão do Paço de Arcos: Sophia de Mello Breyner, Mário Sacramento, Natália Correia, Francisco Rebelo, Jorge Reis, Fausto Lopo de Carvalho, o Tareco, o José Augusto França e o Urbano Tavares Rodrigues. E neste país de abaixo-assinados ainda não apareceu nenhum protesto de escritores contra este facto inaudito que nos marca a todos a ferro em brasa.»
   
(Crónicas do Tejo 93)

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