Luís
Alberto Ferreira (n.1933) é um magnífico jornalista luandense que desde cedo se
tornou adepto do Clube Atlético de Luanda, agremiação especial de onde partiu
gente para o MPLA – Américo Boavida e Diógenes Boavida foram seus jogadores. As
calúnias contra este Clube («clube dos cozinheiros», «clube dos mulatos», «ninho
de conspiradores») ainda deram mais força a uma entidade que nasceu, cresceu e
sobreviveu «como um corcel de persistência e de estoicismo» tornando-se uma
Escola de «amizades, de interacções e de solidariedades». Daí o nome de
«Escola» que todos lhe davam, englobando neste «todos» a diversidade dos negros
mestiços e brancos que estavam na Direcção (Aníbal Melo, Couto Cabral, Faliero
Cunha, Alberto Luís Ferreira) e a massa adepta que ia dos musseques às
Ingombotas e aos Coqueiros. Leitor atento da Revista Stadium, o jovem Luís
Alberto reparava sempre num jogador dos azuis de Belém (José Simões) que usava
um lenço dobrado sobre os calções negros. A camisola era azul como a do
Atlético de Luanda. Anos depois, já estudante em Lisboa, o jovem luandense ia
ver os jogos de Os Belenenses de eléctrico ao lado de Artur Quaresma e de
Mariano Amaro. José Simões foi vitimado por uma pneumonia não sem antes ter
visto a sua recusa em fazer a saudação nazi mascarada na capa de uma Revista
onde alguém lhe desenhou os dedos. Pode ter sido essa «Escola» que ensinou Luís
Alberto Ferreira a respeitar os outros que são adversários mas não inimigos.
Por isso no funeral do extremo-esquerdo portista Nóbrega estavam poucos adeptos
e nenhum dos «adesivos» que só aparecem nas vitórias. O pai de Rui e de Avelino
Mingas também lá jogou e por isso há uma lógica quando Rui Mingas canta: «Fuba
podre / peixe podre / pano ruim /cinquenta angolares / porrada se refilares».
(Crónicas
do Tejo 109 – fotografia de autor desconhecido)
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