O
meu neto Thomas está um homenzinho. Entrou para uma «Grammar School» em Londres
e lá vai todos os dias com gravata e blazer no comboio que em sete minutos o
leva para a Escola. Os sete minutos são os mesmos que me levam todos os dias ao
Rossio. Gosto muito de todos os meus netos (são quatro) mas o mais velho é
especial por ter sido o primeiro a nascer (2006) e por ser protagonista de um
dos mas veementes poemas que escrevi - «Domingo à tarde em Falconwood». Pois a
memória magoada desse domingo à tarde no jardim junto aos comboios de Falconwood
com o seu arraial de exclusão, de maldade e de estupidez («sumos de pacote e
bolos de fábrica») levou-me a recordar a Feira de Rio Maior. Além dos cabos de
cebolas de Alvorninha, havia uma corrida de bicicletas com os homens da Volta a
Portugal. Na curva da estrada colocavam fardos de palha. Ainda me lembro dos
agentes da P.V.T. e das suas ruidosas máquinas. Outra máquina era o comboio que
me lembro de ter visto em Rio Maior. Era uma locomotiva adaptada à via
reduzida. Eu sentia-me excluído da Feira de Rio Maior porque quando queria
alguma coisa a resposta era sempre a mesma: «Tu não tens querer!» Muitos anos
depois em Falconwwod o meu neto Thomas foi excluído não de uma festa de
aniversário (estavam no seu direito) mas do convívio com os seus amigos de rua
e de escola que estavam a poucos centímetros do nosso banco de jardim. Há uma música
triste comum às duas exclusões como se o comboio trouxesse na sua via reduzida
a redução da vida ao rancor, à maldade e à estupidez. Ou seja à exclusão. Os
meus avós podem ter a desculpa do tempo cinzento («Está tudo bem assim e não
podia ser de outra forma») mas as mães de Falconwood não podem ter perdão. O
meu neto Thomas vai estudar numa escola onde os filhos delas nunca vão entrar.
(Crónicas
do Tejo 94 – fotografia de autor desconhecido)
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