Rahul
Kumar (n.1980) organiza o seu trabalho de investigação sobre o Desporto em
Portugal de 1920 a 1960 em três capítulos: - Sociogénese do campo desportivo português – O Estado Novo e o desporto:
ideologia e instituições – A pureza perdida do desporto: a profissionalização
do jogador de futebol. Ao escolher o terceiro capítulo para título do livro,
o autor segue o modelo dos contistas que designam um dos contos como título das
suas colectâneas. É um risco assumido pois o conjunto de 288 páginas engloba
várias vertentes e o Desporto em Portugal não tem nenhuma pureza perdida pois
ela nunca existiu. Basta pensar que o maior feito do futebol português em 1928
(Jogos Olímpicos de Amsterdão) foi realizado ainda na base do «amadorismo» mas
já se discutia na FIFA a questão o «manque à gagner» ou seja, neste caso, os
salários perdidos pelos jogadores convocados para a selecção nacional durante a
campanha olímpica de 1928.
Embora
Rahul Kumar seja doutorado em Sociologia, este livro não deixa de ser, ao mesmo
tempo, um ensaio e um conjunto de histórias: «A história aqui narrada procura
compreender o significado cultural e social do desenvolvimento do jogo e a sua
gradual diferenciação face a um outro conjunto de práticas recreativas e
culturais. A transformação de uma actividade distintiva associada às classes
dominantes, como era o futebol no final do século XIX, num espectáculo de
massas não foi um processo pacífico. Com a afirmação plena da desportivização e da espactadorização do futebol – enquanto
prática competitiva orientada para o público mais do que para o lazer dos
praticantes – a questão à volta da qual se organizam as clivagens mais
marcantes no campo concerne ao estatuto dos atletas desportivos e à sua
profissionalização.»
Curioso
é neste livro uma série de casos e de narrativas como por exemplo a irradiação
do presidente da Direcção do Sporting Clube de Portugal em 1943 (Amado de
Aguillar) por se ter dirigido ao todo poderoso Director-Geral dos Desportos em
tom que o mesmo considerou «grave acto de indisciplina». Outro caso envolve o
Sport Lisboa e Benfica em 1944 quando o seu secretário-geral (Júlio Ribeiro)
foi suspenso por 30 dias e o Clube multado em 3.000 escudos.
O
mundo do futebol em Portugal tem tido destas coisas insólitas: ainda há pouco
tempo (1966) os jornalistas desportivos eram obrigados a serem sócios do
Sindicato dos Tipógrafos e Ofícios Correlativos.
(Um
livro por semana 577 - Edições
Paquiderme, Revisão: Raul Henriques, Grafismo: Carlos Bártolo)
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