Ramiro
S. Osório (n.1939) viveu em Paria 22 anos tendo regressado a Lisboa em 1984. Em
Paris o autor deste livro foi aluno de Barthes e de Bruno Bettelheim que
influenciaram a sua relação com a escrita ou, dito pelo próprio, «3 bês
trouxeram água ao moinho da milha literatura». O autor estreou-se em 1976 com
«Ramirosório superstrass» (Moraes Editores), livro entretanto publicado de novo
em 2000 pela Editora & Etc. Os 16
contos deste livro foram escritos em Paris e são dedicados «a todas as pessoas
(crianças ou não) que nunca encontraram um dragão e à Susana que encontrou um».
O Prémio da Associação Portuguesa de Escritores atinge com esta publicação a
sua plena finalidade pois a edição anterior apenas integrava 8 dos 16 contos.
O
usufruto deste livro é toda uma grande festa a juntar o texto e as ilustrações
que não é possível reproduzir numa curta ficha de leitura. Como convite à
leitura fica o conto «O lápis surdo»: «Quem é que terá tudo a triste ideia de pôr
os animais a falar, nas histórias para crianças? – Não sei – escreveu a máquina de escrever, O lápis fez como se não
tivesse ouvido a pergunta. Mas a máquina de escrever não tinha papas nas
teclas. – Esse lápis é mudo! E surdo que
nem uma porta! A porta não gostou do que ouviu. Escancarou-se toda,
rangendo nos gonzos quanto podia. – As
portas não são surdas! Porque é que dizem sempre «surdo que nem uma porta? É
mesmo uma ideia sem pés nem cabeça! Essa frase faz a ideia explodir. – Eu não tenho pés nem tenho cabeça! Nunca vi
nenhuma ideia com pés ou cabeça! Pés e cabeça são coisa de que nós não
precisamos! E, por entre toda aquela algazarra de tantos fala-barato, o
lápis – surdo ao diz-que-diz – continuava
a correr mudo pela folha de papel, a correr mundo fora pela folha fora,
cobrindo-a e palavras, beijos, palavras…»
(Editora: Sulfúria Edições, Apoio:
Sociedade Portuguesa de Autores, Desenhos: Ramiro S. Osório)
[Um
livro por semana 606]
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